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PECADORES CONFESSOS...

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

MULHERES QUE PECAM N. 7 - Edição Especial p. III

Para terminar esta edição especial, vamos falar da mais polêmica das figuras femininas dentro da narrativa da Bíblia: Maria Madalena. Figura profundamente controversa, cuja origem e história não estão descritas de forma clara nos evangelhos do Novo Testamento, Madalena é a mais mencionada companhia feminina de Jesus Cristo, depois da Virgem Maria. Creio que podemos dizer que Madalena seria uma das visões de amor que cercam a historia de Jesus.



Assim como o amor de Maria, o amor simbolizado na figura de Madalena não é algo que vá estar explicitado nos livros canônicos. O amor materno é uma demonstração de poder associado à femininidade e carrega consigo um forte apelo emocional, e erótico. O amor romântico é desestrurador, sujeito às vicissitudes da carne e, por conseguinte, desestabiliza o discernimento. A volubilidade do amor romântico também é um aspecto frequentemente associado ao feminino. Nenhum desses sentimentos, portanto, é pertinente à narrativa canônica. Os evangelhos do Novo Testamento tem a sua narrativa estruturada de modo a enfatizar cada vez menos a HUMANIDADE de Jesus, e consequentemente, cada vez mais a sua DIVINDADE. O carater híbrido da personalidade de Jesus Cristo é algo dificil de ser assimilado pelo leitor leigo do texto bíblico conforme está organizado. Isto porque os evangelhos procuram focar a oratória de Jesus, o seu ensinamento, a sua mensagem. A sua capacidade relacional, os seus vínculos familiares e afetivos não são foco nas narrativas dos apóstolos. O amor maternal e o amor romântico não estão entre as visões de amor atribuídas à Jesus. É o amor fraternal - e, mais ainda, o amor paternal - que merece destaque nas narrativas.

Assumindo a ideia de que Maria Madalena corresponde à personificação do amor romântico em relação a Jesus, é possível constatar que a construção da personagem Maria Madalena fica fortemente influenciada pelo objetivo principal da narrativa que é reforçar a divindade de Jesus, fortalecer a imagem do Cristo como o Filho de Deus, e não como um ser humano suscetível a fraquezas, defeitos e/ou desejos. Assim, a identidade de Madalena, as suas origens e a sua personalidade são frequentemente apresentadas de forma obscura. Há diversas menções de mulheres com o mesmo nome - Maria - nos livros dos apóstolos: uma delas, inclusive, é uma prostituta; a outra, uma mulher possuida por sete demonios a qual Jesus libertara. As interpretações geradas pela ambiguidade em torno dessas personagens fizeram com que elas fossem associadas à Maria Madalena, inclusive pelo papado. Até hoje, temos no inconsciente coletivo a imagem de Madalena como a prostituta redimida de seus pecados por amor a Jesus Cristo.


Há ainda os polêmicos Evangelhos apócrifos, que conteriam inclusive um Evangelho escrito pela própria Maria Madalena. Estes livros pintam uma Madalena culta, uma mulher com um grau de compreensão da palavra de Jesus superior inclusive aos dos apóstolos. Uma mulher que seria a companheira, o alter ego feminino do Cristo. Se Deus criou uma companheira para todos os homens, seria tão incongruente assim supor que Ele criaria uma companheira também para o seu filho? Essa visão do amor romantico seria assim tão herética, tão desviadora de missão de Cristo como o Salvador, que precise ser extirpada dos livros? Sendo Cristo humano e divino, não seria justo supor que a sua capacidade de amar transcendesse a caritas (caridade)? Essas questões são explicitadas a partir do momento em que se tenta preencher as lacunas na concepção da Maria Madalena descrita nos livros do cânone bíblico. A imagem da mulher promíscua, pecadora, convertida e submissa à vontade do seu Senhor é útil no sentido de denegrir Madalena aos olhos do leitor laico, e adequá-la a imagem do feminino que perpetua o inconsciente masculino desde Eva.

De qualquer forma, a personagem Maria Madalena permanece misteriosa, e sua influência na trajetória de Jesus, assim como a de Virgem Maria, não fica clara nos livros canônicos. Se analisarmos apenas o discurso bíblico, não temos como afirmar quem era, como viveu e nem como acabou Maria Madalena. Por outro lado, embora as narrativas do Novo Testamento procurem via de regra associar Madalena unica e exclusivamente aos vícios da humanidade - contrastando, portanto, com a superioridade divina do Cristo - deixa-se escapar que Madalena era a figura feminina mais próxima de Jesus, e que gozava de certa deferência, já que - como a propria narrativa canonica admite - é para ela que o Jesus ressuscitado aparece em primeiro lugar. É Madalena a única mulher (além da Virgem Maria) quem guarda o túmulo de Jesus, e é ela quem primeiro descobre a sua violação e o desaparecimento do corpo de Cristo. Se olharmos com atenção, veremos que Madalena confere a Jesus a subserviencia de uma esposa, e uma esposa apaixonada... Mas, obviamente, esta é uma história ainda a ser (re)escrita.

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