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PECADORES CONFESSOS...

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Canção para Madalena


Ó, Madalena, eu percebo
que no fundo o seu medo
é o que eu não vejo
é o teu segredo
Madalena, não se avexe
o que é da dama não se mexe
e a tua voz nunca se esquece
é o teu carma, o teu enredo.

Ó, Madalena, tu é que é triste
tanto é tudo que existe
tanto é o mundo ao seu redor
Ó, Madalena, não se irrite
com essa gente que te agride
é que essa tara, esse limite
é o teu revide em tom maior.

Ó Madalena, flor da peste
do lugar de onde vieste
traz o cheiro dos ciprestes
pra acabar com o sofrimento
tu que ouves o lamento
dessa cruz que é tua guia
Ó Madalena também é Maria
No teu nome eu me contento.


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sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Para os amigos deste blog...


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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

PANDORA



Guardo todos os meus medos
na velha mala
de velhos segredos
mas este cheiro que ela exala,
e este tempo que se cala...
é um intenso velho estado
é o som dos meus pecados
abram, abram velhos espelhos!



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A ausência do bem...

Edmund Burke (1729 - 1797)


Para que o Mal vença,
Basta que o Bem não faça nada.



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domingo, 5 de dezembro de 2010

PARA TODAS AS PECADORAS DO MUNDO - Uma das músicas mais marcantes da minha vida, e uma das mais bonitas que já ouvi...


Unpretty
(TLC)




Queria poder te colocar no meu lugar
Tirar de voce a sua beleza
Me disseram que eu sou bonita
Mas o que isso te diz?
Quem está lá quando olho no espelho?
A menina de longos cabelos
O mesmo velho "eu" de todos os dias

Por fora tudo lindo
Por dentro estou ruindo
Sempre que acho de me perder
é por causa de voce
Já tentei todos os jeitos
Mas é mais do mesmo
E quando o dia chega ao fim
Tudo cai sobre mim
Estou só me enganando...

Pode comprar seus cabelos compridos
Pode consertar seu nariz se ele tiver pedido
Pode comprar toda maquiagem do mundo
Mas se não puder se olhar a fundo
Descobrir quem voce é, e então
Ser capaz de fazê-lo sentir-se tão
sem a maldita beleza...

Posso tirar sua beleza também...

Nunca insegura antes de o conhecer
Agora estou paralisada
Eu costumava me achar bonita
Só um pouco mais magra
Porque eu procuro estas coisas
para te satisfazer?
Talvez seja melhor me livrar de voce
e depois voltar para mim...




NOTAS:
1) A palavra unpretty não tem tradução direta para o português. Alguns a traduzem apenas pelo antônimo de pretty (bonito), mas o vocábulo também denota um sentimento íntimo de inadequação, de insatisfação pessoal e insegurança. Por isso optei na tradução por desmembrá-la na expressão "sem beleza", já que a abstração na palavra "beleza" sugere algo mais profundo do que a boa aparência.

2) A letra desta música é de autoria de Lisa "Left-Eye" Lopez, o "L" do grupo TLC, que faleceu tragicamente em 2002 num acidente de carro em Honduras, um pouco antes de completar 31 anos de idade. Por isso voce verá no final deste video uma foto da "rapper" com a expressão R.I.P (Rest In Peace, ou como no nosso português, Descanse em Paz) .

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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

As Cariocas: Stanislaw Ponte Preta e a veia cômica do realismo rodriguiano.



As Cariocas (Rede Globo 2010)


Elas são volúveis, neuróticas, desconfiadas e potencialmente insatisfeitas com suas próprias vidas. Mas em vez de matar suas figuras paternas, corromper suas crias, suicidar-se ou fugir para longe, elas procuram amenizar uma existência para elas caótica e sem saída. A ambientação não podia ser outra – a cidade do Rio de Janeiro. Assim temos As Cariocas (Globo – 2010), série criada por Daniel Filho a partir do livro de crônicas homônimo escrito em 1967 por Sérgio Porto (1923-1968), alias Stanislaw Ponte Preta. O elenco dirigido por Cris D' Amato e Amora Mautner interpreta o cotidiano de dez insensatas mulheres, em episódios pontuais associados à determinados bairros da cidade do Rio. Uma série de enquetes que, se transpostas para o teatro, poderiam ser classificadas como Comédias Cariocas, numa alusão esteticamente perfeita às Tragédias Cariocas de Nelson Rodrigues (1912-1980)*.

A “rajada de monstros” que formava o teatro de Nelson Rodrigues causava espanto, repulsa, reconhecimento e aplauso e valorizava, segundo o dramaturgo, a reflexão pela catarse, e o aprendizado pela dor. Adquiriu através do crítico Sábato Magaldi denominações específicas de acordo com as características mais marcantes nas peças – embora não se pudesse dizer que elementos míticos, psicológicos e trágicos não estivessem presentes em todas elas. Ainda assim, o que Magaldi apelidou de Tragédias Cariocas constituía uma série de enredos dramáticos ambientados na cidade maravilhosa, em que acontecimentos simples do cotidiano tomavam proporções grotescas e em alguns casos, violentas. A maioria das histórias das peças encontra ressonância no conjunto de crônicas intitulado A vida como ela é (1950), idealizado por Rodrigues para o jornal A Última Hora.

A questão é que a heroína rodriguiana, nas Tragédias Cariocas como nos demais trabalhos do dramaturgo, é o paradigma da frustração e da revolta com o papel que lhe é imposto. Em consequência, torna-se amarga, ferina, ou pre-disposta à transgressão – do adultério ao escracho, da dissimulação ao assassinato. São mulheres fortes, pássaros em gaiolas chauvinistas que, por vezes, bicam as proprias grades. O objetivo de Nelson sendo o enfrentamento e a crueza, seus textos descambam invariavelmente para a ironia patética ou para a tragédia violenta. Em Os Sete Gatinhos, as filhas prostituídas pelo pai se unem para matá-lo a facadas. A Glorinha de Perdoa-me por me traíres manipula e envenena o tio, assassino de sua mãe. A “Falecida” orienta em carta que seu amante financie-lhe um enterro de primeira, mediante o pedido de seu marido. Sem falar de um Beijo “gay” no Asfalto, e da Bonitinha mas Ordinária Maria Cecília, que já nos rendeu um artigo anterior. Em todos os casos o humor (se existe) é involuntário, e a atmosfera é pesada, lúgubre. Tal não é a saída dramática de Sérgio Porto.

Nas Cariocas de Porto, sente-se a mesma dose de frustração e volubildade da mulher rodrigueana, porém, a mulher dos anos 60 é outra – mais falante, demolidora de preconceitos. Assim as mulheres expressam seus anseios de maneira mais eloquente, sem precisar de subterfúgios. Menos condescendentes, amenizam as próprias dúvidas sendo um pouco mais delas mesmas, sua neurose não tão sujeita à total repressão. São famílias sem a figura paterna tão presente, como em “A desinibida do Grajaú”, onde a maior influencia na socialização da heroína é a mãe, que incentiva estereotipação da filha – e da mulher por tabela, em um padrão de aparência, uma herança da visão machista do feminino. Em Sergio Porto, a crítica se rende ao sarcasmo e a monstruosidade se revela através do ridículo, tornando o “aprendizado” mais sutil, porém não menos catártico. Apenas o instrumento de catarse muda do choro para o riso.

Numa outra análise, podemos até verificar uma certa paridade entre, por exemplo, a Adultera da Urca e a rodriguiana A Mulher sem Pecado. embora a paranóia obssessiva de Olegário não se observe no suposto marido traído nesta crônica de Porto. A degringolação da instituição do casamento, e o fato da mulher perder a paciencia com a iniquidade dentro do relacionamento amoroso constitui a base da potencial frustração de quase todas as heroínas retratadas na minisérie, e também encontra ressonância nas mulheres das Tragédias Cariocas de Rodrigues.

O pecado dessas mulheres é a voz, é a originalidade de expor seu pensamento, seu comportamento, seu sentimento. Esta exposição culmina em dois vértices: a comicidade irreverente de Stanislaw Ponte Preta e a tragicidade atroz de Nelson Rodrigues. Pela dor ou pelo riso, as mulheres de ambos os autores colocam a transgressão em perspectiva e, assim, desenvolvem uma forma alternativa de extravasar a si mesmas.


*As Tragédias Cariocas são, de acordo com Sábato Magaldi: A Falecida, Perdoa-me por me traíres, Os Sete Gatinhos, O Beijo no Asfalto, Boca de Ouro, Bonitinha Mas Ordinária, Toda Nudez Será Castigada e A Serpente.

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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Sobre a fé...

 
Para os que creem, nenhuma prova é necessária;

Para os que não creem, nenhuma prova é possível.



Stuart Chase (1888-1985), American writer 

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sábado, 20 de novembro de 2010

DOAR PALAVRAS NÃO CUSTA NADA...PORQUE NÃO TEM PREÇO!


DOE PALAVRAS
Um projeto do Instituto Mário Penna



Conheci este projeto através da Rosane Marega, e achei delicado e original. Voce manda uma mensagem aos pacientes que se tratam de cancer no Instituto Mário Penna, através do site do projeto ou do seu Twitter, e as suas palavras aparecem num telão daquele hospital para que os pacientes leiam...é simples mas quantas pessoas não seguem em frente por falta de alguém que as empurre?

Aplaudo a iniciativa da Rosane de divulgar este lindo projeto no seu blog. Já doei minha mensagem, e espero que voces também se sintam incentivados a fazer o mesmo! É só clicar na imagem...

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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O pecado de Lady Chatterley - à luz de Madame Bovary.



Madame Bovary, de Gustave Flaubert, está listado entre os 100 melhores livros de todos os tempos. É certamente um livro fundamental, especialmente no tocante à (des)construção da individualidade feminina. Emma Bovary é uma protagonista intensa emocional e psicologicamente – e por isso mesmo, distanciada de seu meio. Sua defesa de si mesma é um caso perdido diante de uma sociedade chauvinista, escravizante, generalizadora. É a tragédia do feminino em potencial – um exemplo de degradação do indivíduo em relaçao ao ambiente.
Neste post vamos falar de uma personagem criada a partir do modelo Bovary – mas que faz o caminho inverso ao tragicismo de Emma. Estamos falando de Constance Reid, ou simplesmente Connie, ou, como passou a se chamar depois de casada, Lady Chatterley.
O amante de Lady Chatterley (1928), de D.H. Lawrence, foi proibido em vários países na época de seu lançamento por ser considerado provocativo, imoral. Lawrence descreve em detalhes as relações sexuais entre Connie e seu amante, Oliver Mellors. Nomeia orgãos genitais, explicita preliminares sexuais, e o ato em si. O romance não foi liberado para publicação na Inglaterra antes de 1960. De fato é um livro “aberto”, honesto quanto à caracterização do corpo como instrumento de expressão do indivíduo. O sexo, para Lawrence e no contexto do romance, representa o reconhecimento do indivíduo enquanto parte do mundo sensível, um ser cuja presença faz diferença no mundo.
Só esta premissa nos parece um oposto direto à contextualização da Emma de Flaubert. Emma, como Connie, também usa o corpo como representação da sua individualidade, e a sua frustração sexual também é a sua frustração enquanto individuo. Mme. Bovary se recusa a ser uma peça na engrenagem de uma sociedade que acharca o seu desejo, e o seu arbítrio. Recusa-se a submeter-se ao papel imposto a ela – despreza o marido, ignora a filha. Procura construir uma imagem que a destaque, a diferencie das cores locais – mas acaba consumida pelos proprios vícios. Lady Chatterley, apesar de fazer o mesmo exercício de afirmação da individualidade, tem uma visão de mundo menos idealista do que Emma. Constance tem uma formação profundamente intelectual, vem de uma familia burguesa ascendente, tem total conhecimento das regras do jogo social; não a aprendeu nos livros do colégio interno, como Emma. Tendo também a insatisfação sexual como ponto de partida, Constance não atira a esmo; não se joga entre sonhos e sensações frívolas, buscando a completude que imaginara para si. Há um processo de maturação na personalidade de Constance que não se enxerga em Emma. E é neste ponto que suas histórias deixam de convergir.
A escolha do parceiro sexual é um exemplo na diferença de perspectiva de Emma e Constance. Emma tem pelo menos três amantes diferentes no decorrer da narrativa de Flaubert. As descrições das aventuras sexuais de Emma são envoltas em atmosferas de sonho, a sua intensidade está na idéia do sexo, e não no sexo propriamente dito. Já Lady Chatterley tem apenas um amante, Olliver, empregado da casa de seu marido. A relação dos dois é narrada literalmente por Lawrence, conferindo ao romance um realismo “perigoso” – porque aproxima demais leitura e leitor. Constance e Olliver desenvolvem uma historia de afinidade, companheirismo, temperado com um desejo intenso e uma procura pelo equilíbrio entre a satisfação sexual e a satisfação pessoal. Tal desenvolvimento não se encontra nos romances de Emma Bovary. Emma usa o sexo extra-conjugal como valvula de escape, e tenta desesperadamente igualar satistação sexual com a sua fantasia. O que invariavelmente resulta em frustração.
Ambas lidam com a impotência – literal ou figurativa – de seus maridos. Charles Bovary é um homem burocrático em todos os sentidos. O que faz com que Emma se desiluda do casamento a partir da lua de mel. Já o marido de Constance é um aristocrata que se fere na I Guerra Mundial – paralisado da cintura para baixo e também impotente. O descasamento sexual tanto de Emma quanto de Connie é o gatilho pela busca por novas experiências. Mas Emma jamais amadurece, sempre buscando o romantismo dos livros que lera na infancia, sempre enxergando um príncipe encantado em seus amantes intelectuais e/ou de alta classe. Connie e Olliver se aproximam pelas decepções em seus relacionamentos, e confiam um no outro para se complementarem, se equilibrarem. Oliver é um homem de boa educação mas de origem proletária, o que não é um impedimento para Connie, pois demonstra a disposição de Lawrence de aproximar a protagonista de uma realidade palpável, miscigenando socialmente os personagens. Em consequencia dessa aproximação, o caso entre Connie e Olliver cresce e floresce,enquanto os relacionamentos de Emma Bovary jamais duram muito.
Como resultado, a individualidade intensa e conflituosa de Emma definha rapidamente, e desintrega-se no meio que a cerca. Sem conseguir se auto-afirmar, Emma observa o proprio processo degenerativo quando seu ultimo pedido antes de morrer é um espelho. O seu suicidio significa o ataque final contra um corpo que já não se reconhece, e que está fadado ao desaparecimento. Já Connie e Olliver tem um final feliz, livrando-se de seus casamentos e se unido oficialmente. Lady Chatterley regenera sua individualidade e se reafirma enquanto ser que deseja, usando o jogo social a seu favor.
O contraste entre a degeneração e a regeneração do individuo – que está diretamente relacionada entre a França aristocrática do sec. XIX (Flaubert) e a Inglaterra pré-industrial do inicio do sec.XX (Lawrence) – acaba por desvincular os pecados de Emma e Constance. O adulterio de Emma é uma forma de escapar; o adulterio de Connie é uma forma de enfrentar. Em ambos os casos, a tríade corpo/mente/individuo é usado como instrumento embora, no final, todo o esforço dessas mulheres desemcambe ou para o drama resolvido ou para a imensuravel tragédia.


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quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Esta frase não é cruel, mas é a pura verdade...

Benjamin Franklin envolvendo um aluno em seu experimento

Diga-me e eu vou esquecer.
Ensine-me e eu vou lembrar.
Envolva-me e eu vou aprender.


Benjamin Franklin (1706-1790), cientista e um dos fundadores dos EUA

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domingo, 7 de novembro de 2010

ESSÊNCIA


É a alma, é a alma
Este torto desembaraço
Este senso incontido
Esta calma
que não faz sentido
é a alma,é a alma
é o perigo…
ou este abismo
de silêncio vivido
é um verso antigo
este cinismo
que encarna
que repele
que não abandona o abrigo
é a alma, é a alma
este fosso, este Karma
este inimigo.

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terça-feira, 2 de novembro de 2010

Será que meus textos me levarão ao estrelato? Teste interessante...

I write like
J. K. Rowling
I Write Like by Mémoires, journal software. Analyze your writing!

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domingo, 31 de outubro de 2010

MAGIC (toda Bruxa é uma Mulher que Peca, ou toda Mulher que Peca é uma Bruxa?)


tento todas as sensações
testo todos os elementos
danço solta com o vento
me iludo me vendo
em todas as direções.
ando meio devagar
sou melhor no despropósito
e no instinto
não me escondo, não minto
nem de longe me admito
sou assim meio de mar…
guardo os meus encantos
se não fosse pagar o preço
de todo desejo que eu esqueço
eu sorriria mais; então eu penso
que o tempo pra mim é só o começo
e o veneno dos anos eu aqueço,
eu engano.



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Um poeta me fez lembrar dessa frase SO CRUEL...SO TRUE hoje:



A experiência é uma professora brutal; mas você aprende. Deus, e como aprende!


C. S. Lewis (1898-1963), escritor irlandês – autor, entre outros trabalhos, dos livros que compõem “As Crônicas de Nárnia”.

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sábado, 30 de outubro de 2010


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terça-feira, 26 de outubro de 2010

DIANA


Diana tinha esse jeito de olhar que era mais uma paralisia. Sentava num canto que não se via, e entrava num buraco negro, um lugar que só ela ia. Dona Mirna não entendia. Uma vida inteira separava mãe e filha. Uma parecia não saber absolutamente nada da outra. Parecia.

Porque Diana sempre sabia. Parecia não olhar, mas sempre via. Tinha uma enorme presença, e uma perspicácia atroz. Olhos de lince, magnetizava, invadia. Diana, ferina e triste. Sempre arredia.

Dona Mirna desistira dela faz tempo. Desde pequena essa insistência, essa posse incondicional da própria vida. Essa independência. Parecia um radar sintonizado além do mundo. Aquela menina de olhos arregalados e cabelo em riste, sempre descalça, descabida. Só a envergonhava com os vizinhos.

Mas Diana era o avesso, não tinha jeito nem trejeito. Só aquele olhar. Naquele tempo, parecia um bicho numa jaula. Agora ia na jugular. A criança desenxabida crescera imponente e furtiva. Alta, corpulenta, nariz arrebitado, boca sedenta. De uma beleza altiva, mas mesmo assim...sempre alguma coisa que não se diz, algum desejo. Dona Mirna já teve vergonha, embaraço, desprezo. Agora só tinha medo.

Não gostava particularmente daquela hora em que o sol mudava de lugar, e abandonava a velha sala de estar, abandonava o dia. Era quando o belo rosto de Diana despertava mais pavor. Era quando Diana sorria.

***

A desgraça alheia tem mel e açúcar, é uma iguaria. E naquele dia, não foi diferente. Para onde se olhasse, amigos, vizinhos, parentes. Gente que ela nunca via.

Dona Mirna tinha os olhos cerrados, um ar de susto, de ingresia. Já não sofria. Deitada em berço esplêndido, em madeira de vime, coisa fina. E lá estava a filha de pé, a mesma altivez, o mesmo silêncio. A mesma catatonia.

Sentia os olhares, o burburinho, até os poucos passos se ouvia. Não se continham. Era a voz da romaria. Seus pensamentos fugiam, sua memória escondia. Sob os pios e os risos daquela gente. Sob o inevitável sussurro das massas: “assassina!”.

De fato, a faca, o sangue, a gritaria. Não queria entender. Tampouco explicaria. Era aquele olhar. Aquele ar de presa fácil, sempre assustada, sempre vazia. Era um vício, apenas algo que fazia. Mas não adianta explicar.

Como dizer que era a caça, o prazer, a vida, e que era só o começo?

Ninguém entenderia.

Mesmo assim, em cada gota, cada lágrima, ela sabia.

Não era morte, nem o enterro, nem a tristeza.
Era ela.
Era Diana que os atraía.

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domingo, 24 de outubro de 2010

Um de meus poemas favoritos...


Parando na mata em noite de nevasca
(Robert Frost) 

Acho que sei de quem é esta flora
Mas é numa casa na vila que ele mora
Não me verá nesse instante parar
olhar sua mata sob a neve da aurora.
Meu pequeno cavalo acha peculiar
Parar tão perto de algum lugar
Entre esta mata e o lago espelhado
Neste ano de noite sem luar.
E o animal se mexe incomodado
Quer saber se há algo errado
E tudo mais que se pode ouvir
É o soar do vento e dos flocos gelados.
Profunda, triste e bela é a mata daqui
Mas eu tenho promessas a cumprir
E um longo caminho antes de dormir,
E um longo caminho antes de dormir.

(tradução de minha autoria)

Para ler o poema original (vale a pena!), clique aqui.

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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

SO CRUEL...SO TRUE - Mais home truths


Fantasmas são reais. E Monstros são reais também.
Eles vivem dentro de nós.
E algumas vezes, eles vencem.

Stephen King, escritor americano






Os contos de fada não dizem às crianças que os dragões existem.
As crianças já sabem que dragões existem.
Os contos de fada dizem às crianças que os dragões podem ser destruídos.

G. K. Chesterton, ecritor britânico



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domingo, 17 de outubro de 2010

As pecadoras de Jorge Amado (III) - O sexo é uma arma em Tereza Batista Cansada de Guerra

Capa do livro (1973)

Me chamo siá Tereza
Perfumada de alecrim
Ponha açúcar na boca
Se quiser falar de mim

Flor no cabelo
Flor no xibiu
Mar e rio

Tereza Batista, por Dorival Caymmi



O pecado em Jorge Amado geralmente é algo contraditório, é uma questão de interpretação. No tocante às suas mulheres, a infâmia que ronda as suas vidas é temperada com a necessária dose de delicadeza, e mistério. Foi assim com o erotismo político (ou a política erótica?) da cabrita Tieta do Agreste e a cozinha cheirando a cravo e canela da sedutora Gabriela. Mas vamos falar agora do que chamaremos de uma exceção à regra. Uma exceção que valoriza o conflito, a violência e o infortúnio - e por esse viés, constrói uma das personagens femininas mais contundentes do universo amadiano. Seu nome: Tereza Batista.

No romance Tereza Batista Cansada de Guerra (1972) temos a história de uma mulher que recusa todo e qualquer papel social que tentam lhe impor. É a história de uma mulher que é o que quer ser - luta por isso, mas também paga caro por isso, e por muito tempo. Seu pathos de muito sofrimento começa na pré-adolescência quando, orfã de pai e mãe, é criada como escrava pela tia Felipa até ser vendida por ela para o Capitão Justo, homem cruel e pervertido. Vive por muito tempo como escrava sexual do capitão; mas, ao contrário de suas outras "meninas", Teresa não se deixa possuir sem luta. O capitão sempre tem de pegá-la à força. O papel da garota pobre destinada ao subjugo e ao trabalho forçado não lhe cabe, e nem ela o deseja. O estupro, neste caso, é a forma cruel de estabelecer, todos os dias, um sonoro manifesto contra a sua própria condição.

Ainda sob o teto do Capitão Justo, Tereza conhece Daniel, e se apaixona por ele. É a sua primeira experiência de sexo consensual. Mas nada é tão fácil. O momento idílico com Daniel termina quando o capitão flagra os dois. E naquele momento, Tereza se traveste do cavalheirismo que falta ao seu amante, se interpõe entre os dois homens e acaba matando Justo. Um episódio que poderia ser facilmente descrito por legítima defesa - exceto quando a vítima é um homem poderoso, e a criminosa é uma mulher sem eira nem beira. Daniel, é claro, a abandona. Diante de um sistema opressor, chauvinista e discriminador, Tereza passa de escrava sexual à assassina condenada e presa, materializando a sua marginalização social.

Tereza é salva da cadeia - recusando o papel de assassina - pelo Dr Emiliano Guedes, homem já de idade, que se encantara com o espírito rebelde da moça quando a conhecera na casa do capitão. Mais uma vez, trata-se de possuir, mas com uma abordagem diferente - através da gratidão, e construindo aos poucos carinho e afinidade. Emiliano e Tereza se aproximam, se respeitam. Mas, na hora exata em que estão fazendo amor, Emiliano morre. E Tereza, que era o que no sertão se chamava "teúda e manteúda" do doutor, se vê jogada na rua novamente. Sem saída, usa o sexo para sustentar-se.

Mas Tereza está longe de conformar com a marginalidade. Como prostituta, Tereza se mete em várias brigas com a polícia para defender as companheiras de profissão. Engaja-se na greve das prostitutas para não serem despejadas de seu local de trabalho. Percebemos, portanto, que há um padrão de comportamento em Tereza que insiste em desafiar qualquer representação de autoridade patriarcal. O poder masculino não a assusta, nem a detém. Ela se determina a não ser oprimida, retaliada, discriminada. E ainda que ocupe sempre o lugar mais raso da pirâmide social, sempre se faz notar.

O grande amor de Tereza, desde quando matara o capitão Justo, era o marinheiro Jereba. Mas, mais uma vez, se decepciona ao descobrir que ele é casado, e que a deixou para voltar para a esposa doente. Há também aqui um padrão de insatisfação amorosa quase que diretamente proporcional à rebeldia de Tereza. Os homens de Tereza são fracos, indecisos. A força de Tereza os atrai, mas também os assusta. E eles fogem para longe de seu magnetismo. Mas o amor se torna uma nova mola propulsora na vida de Tereza e ela decide lutar por isso.

Depois de perder Jereba, Tereza viaja para o interior de Sergipe, onde vê médicos e enfermeiros abandonarem o único posto médico do lugar, por medo do avanço da varíola. Resolve prestar assistência aos doentes com a ajuda das prostitutas da região. Novamente, o contraste entre a instituição social e a generosidade nascida da opressão compartilhada. 

Depois de Sergipe, Tereza ruma para a Cidade da Bahia, atrás de Jereba (àquela altura, já viúvo). Mas num novo desencontro, descobre que ele embarcara num navio de carga estrangeiro. Tereza então, torna-se dançarina num cabaré em Salvador. É quando conhece Almério, homem gentil que desperta a sua simpatia. Mas, no dia do seu casamento com Almério, Tereza reencontra Jereba. E decide renunciar ao papel de esposa conformada, arranjada num casamento sem amor, e partir para sua última transgressão: viver feliz, ao lado de quem ela deseja, com ou sem a benção do sagrado matrimônio. A jornada de Tereza, o seu "endurecimento", a sua maturação sexual e psíquica, chega ao fim.




Com sua narrativa tipicamente anacrônica, e com um narrador tipicamente nordestino, a história de Tereza Batista é c(o)antada na marca do repente. Tereza, na voz do contador (ou será cantador?) de histórias se torna um símbolo, quase uma lenda. Uma entidade mediúnica, filha dos orixás, mulher brava, guerreira, avassaladora. Feminina. Aquela que até o último momento, lutou para ser, e não apenas refletir o outro. Tereza Batista cansada de guerra. No fim, tudo se resume à paz de seu conturbado - porém vencedor - espírito.


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terça-feira, 12 de outubro de 2010

SATISFACTION

"Eve" by Matthew Leclair

Meu corpo lateja
quando ninguém vê;
Imagina, sonha e deseja
Não encontra o que dizer...
Se não estou só
Ainda quero e penso
Mas sinto um silencio
Um intenso não poder.
E  se fico em paz
Sei que não há nada mais
Nem nada melhor para fazer
A não ser ...

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sábado, 9 de outubro de 2010

As pecadoras de Jorge Amado (II) - O imperio dos sentidos de Gabriela Cravo e Canela

O romance de Jorge Amado, traduzido para o inglês

Gabriela, perfume de cravo e cor de canela. A imagem da tropicalidade e da brejeirice – como também da libertação do desejo primitivo, do sexo enquanto exercício do corpo. No romance Gabriela Cravo e Canela (1958), Jorge Amado nos apresenta um mulher de espírito livre, sem amarras morais nem pertubações de consciência. Uma cria da terra, trabalhadora, inocente, interesseira, sedutora, voluntariosa, humana. A história de Gabriela é alegre, cantada com o sotaque baiano, mas ao mesmo tempo, é ambientada numa sociedade em formação – a sociedade cacaueira da Ilhéus dos anos 20 -, portanto em busca de valores e opiniões que a integrem ao progresso tão fortemente almejado. O contraste entre a simplicidade e a conotação sexual com que Gabriela lida com as situações, e acirrada disputa política e moral que se estabelece no vilarejo, ajuda a ratificar o nível de desprendimento que a protagonista tem daquele cenário.

Tal contraste, portanto, é proposital. Amado constroi dois ambientes: um macrocosmo em que vemos uma sociedade contraditória, rural e ascendendo ao progresso, com a política influenciada pelo coronelismo, mas sendo cutucada com vara curta pelas novas ideias das cidades do Sul; e um microcosmo com as relações interpessoais, romances, traições, triangulos e até quadrados amorosos. E há Gabriela. Dentro desse microcosmo emocional, ela é quem clama pelo sexo. 

Gabriela é uma retirante que chega a Ilhéus acompanhada do amante, para trabalhar nas fazendas de cacau. Lá chegando, depara-se com o sírio Nacib, dono de um bar que precisa desesperadamente de uma cozinheira para aprontar um banquete sob encomenda. Nacib contrata Gabriela e ela dá conta do recado. Seu tempero torna-se marca registrada do estabelecimento de Nacib. Logo, sua beleza morena chama tanta atenção quanto o seu tempero. Atenção para o fato de que Amado transforma Gabriela numa espécie de deusa de todos os sentidos. Cheiro, sabor, aparencia, musicalidade…o tempero, a beleza e a voz de Gabriela determinando o sentido primitivo fundamental – o toque.

De fato, Nacib e Gabriela não demoram a se relacionar intimamente. A noite que passam juntos não é sobre amor, mas sobre desejo. Gabriela não se furta a nenhuma sensação. Sentir é seu estado natural, não é uma questão de certo ou errado. Ela quer, e é o que basta. Mas Nacib é um produto do meio social, civilizado e restrito. Um homem cuja intimidade precisa ser justificada perante a sociedade. Então com o passar do tempo, Nacib se convence de que ama Gabriela e a pede em casamento.

Como já dissemos, para Gabriela tudo é experiência. Muitas propostas já lhe haviam sido feitas, todos a queriam. Mas Nacib a queria num papel que nunca experimentara antes – o de esposa. Casar, se dar ao respeito, vestidos e sapatos. Seria uma boa senhora de família?

A resposta é obvia. Gabriela não se adapta à vida de casada. Não andar em panos leves, descalça e sem modos refinados a afastava demais de sua própria essência. O casamento, enquanto expressão da convenção social, arranjo primário de qualquer sociedade, não consegue prender o espírito livre de Gabriela. Em consequencia, o desgaste emocional é inevitável. A vida sexual de Nacib e Gabriela decai grandemente, já que o sexo marital “deve” se desprender completamente da luxúria. Para Nacib, nascido e crescido em sociedade, isto é o certo a fazer. Mas não para Gabriela. Nunca para Gabriela.

Gabriela, eternizada na imagem da atriz Sonia Braga


A morena cravo e canela, então, se liberta mais uma vez. Refuta totalmente um comportamento que não pedira, e com o qual não concorda. E como ela faz isso? Procurando em outro homem aquilo que Nacib se recusa a lhe dar. Gabriela quer sentir de novo. Não importa como. Não importa com quem. É um chamado do corpo, a única linguagem que ela conhece e domina.

Mas para a sociedade ao seu redor, esse chamado tem outro nome: adultério. E assim quando Nacib flagra Gabriela na cama com o conquistador Tonico Bastos (seu padrinho de casamento), a confusão se forma. Tonico é expulso da cidade; Nacib pede a anulação de seu casamento com Gabriela. Gabriela sai de casa. E o nó do casamento se desata. Mas Nacib e Gabriela não ficam separados por muito tempo.

Na parte final do romance, Nacib abre um restaurante na cidade em parceria com o político progressista Raimundo/Mundinho Falcão, vencedor da disputa política contra o coronelismo. Gabriela é contratada para ser a cozinheira do novo lugar. Completa-se então um ciclo, com o império dos sentidos atacando novamente. Mais cheiros e mais sabores, e a beleza cor de terra de Gabriela seduzindo novamente o já apaixonado Nacib. A morena e o sírio, então, retomam o tórrido caso amoroso do início da história.

Gabriela, senhora de si, poderosa em sua simplicidade, e com um poder muito simples nas mãos – o próprio sexo. Uma mulher que sem fazer nada mais do que sempre fez, fez tudo que uma mulher do seu tempo não teria coragem de fazer. Uma mulher forte a seu modo, determinada a seu modo – e que a seu modo, acabou vencendo.

(todas as imagens by Google)
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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Teste de LOUCURA... e de ARTE

BLOG INTERLUDE

Achei no queridíssimo blog A culpa é do arroz, e achei divertido. Adoro testes...o nome desse é

QUE GÊNIO LOUCO É VOCE?

Eu me aventurei a fazer e olha no que deu...o que voces acham? Tem a ver comigo (sem contar os bigodes...)?
Se estiverem a fim o link está embaixo da imagem.
Volto num piscar de luzes....






Faça você também Que
gênio-louco é você?
Uma criação de O Mundo Insano da Abyssinia

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segunda-feira, 4 de outubro de 2010

SO CRUEL...SO TRUE (mais uma de nossas verdades mais feias...)




Há coisas que não queremos que aconteça, mas temos que aceitar;
Coisas que não queremos saber, mas temos que aprender;
E pessoas sem as quais não vivemos, mas temos que deixar para trás.

Ditado inglês, de autor deconhecido.

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sábado, 2 de outubro de 2010

NEGATIVO


Mulher_voa 

SE me virasse do avesso,
como  um recomeço
da minha existência
seria aquela que não grita
a que não chora nem facilita
a maledicência…
mas passaria pela vida
com tão poucas memórias
e tantos arrependimentos…
de todos os momentos
de todas as histórias
a palavra que é dita
é que é o som do tempo.


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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

As pecadoras de Jorge Amado: as mulheres e o sexo em Tieta do Agreste



O livro

A jovem Antonieta, ou simplesmente Tieta, era o que se chama no interior de cabritinha. Pastora de cabras, a ambiguidade de seu apelido também alude a uma menina espevitada, brejeira, que gostava de provocar principalmente o sexo oposto. Nos idos anos do fictício Mangue Seco, Tieta corria as dunas, incorporando a onomatopéia dos cabritos, encorajando e desafiando os homens. Até seu pai olhava-a diferente. Tieta era, se assim pudermos comparar, uma Lolita em estado bruto. Sem cultura, em roupas de chita, e com modos rústicos. Assemelhava-se em grande parte aos animais que tangia. Mas seu apelo erótico e suas escapadelas incomodam muita gente. Até que são delatados pela irmã mais velha, a invejosa Perpétua, fazendo com que seu pai a espanque e expulse de casa e da cidade de Santana do Agreste. No interior, o pátrio poder tem mãos de ferro, e a família é seu território, sobretudo as mulheres.

Mas na história de Tieta do Agreste (1977), Jorge Amado não se resume à juventude da protagonista. O passado é apenas o ponto de partida para o enredo clássico do filho pródigo - ou neste caso, da filha escurraçada que retorna à cidade natal, bem-sucedida e rica, e disposta a influenciar o cotidiano do lugar. Numa narrativa anacrônica e baseada em pontos de vista, Amado nos proporciona acompanhar o amadurecimento do comportamento sexual de Tieta, e também o seu refinamento. E no meio do caminho, constroi pelo viés da capacidade erótica uma série de duplos para a protagonista, de ambos os sexos. Vamos nos ater, é claro, aos duplos femininos que, ao nosso ver, são quatro: Perpetua, a irmã recalcada; Tonha, a madrastra reprimida; Leonora, a filha postiça; e Imaculada, a cabritinha virgem.

Todas estas quatro personas se definem, de uma forma ou de outra, em comparação à forte personalidade de Tieta do Agreste. Perpétua, a antagonista, é aquela cujo comportamento sexual é dramaticamente oposto ao da irmã. Não por opção, mas por falta de oportunidade, ou simplesmente por interesse. Perpétua casou-se uma única vez, com um militar; e enviuvou cedo. Desde então, mantém-se casta, infurnada na igreja e rodeada de beatas mas, entre quatro paredes, troca as orações por uma enorme caixa de presente, onde contempla diariamente o embalsamado membro do seu marido morto. A obsessão de Perpétua é a ausencia do sexo, o voyeurismo, e até um certo masoquismo, impondo uma poderosa nulidade ao proprio corpo. Mas sua mente...sonha, deseja, e o seu símbolo fálico - que neste caso é, literalmente, o falo masculino - está devidamente materializado. Seu sentimento pela irmã liberada, desejada e realizada sexualmente não poderia ser outro senão um ódio deliberado.

Tonha, ao contrário, é a mulher cujo apetite erótico permanece latente, contido pelo dever para com um casamento falido, infeliz. Tonha regula em idade com Tieta, casou-se jovem com o pai da protagonista, e funcionou como um espécie de substituta moralmente aceitável no desejo do marido pela propria filha. A identificação de Tonha com Tieta também se dá na profunda curiosidade sexual, no desejo de experimentar e na capacidade de atrair. Mas Tonha não se vale desses predicados. Presa à um dever de fidelidade conjugal, ela se reprime no comportamento e na aparência. É a típica Amélia, mulher de verdade que não tem a menor vaidade, se contenta com pouco, e trabalha até a exaustão para manter a casa e o marido.



Tieta, novela da Rede Globo (1989)


Leonora e Imaculada já fazem parte da vida da Tieta adulta, quando esta retorna à cidade rica e disposta a mudar a estrutura do lugar. Leonora é a filha emprestada, com um passado violento - foi currada na adolescencia. Neste caso, a juventude e a brejeirice se chocam com o sexo não-consensual. Enquanto Tieta se esgueirava pela reserva de Mangue Seco para se aventurar com os homens, Leonora foi pega por eles à força. Um aspecto sombrio da iniciação sexual que de alguma maneira determina o comportamento sexual da vítima. Leonora é romântica, frágil emocionalmente. Chama sempre Tieta por Maezinha, parece alguem que parou na adolescencia, quando aconteceu o estupro. Volta para Santana do Agreste junto com Tieta e se envolve com um dos figurões da cidade, o político Ascânio, que a tem como uma santa. Mas quando a verdade sobre a fortuna de Tieta vem à tona, as opiniões sobre Leonora mudam completamente.

A historia que Tieta conta a cidade é a de que ela teria casado com um comendador e herdado todo o dinheiro após sua morte. Mas descobre-se que Tieta é, na verdade, Mme. Antoinette, uma das cafetinas mais influentes de São Paulo, com a maioria dos políticos em sua agenda, e que Leonora é uma das suas escorts. Seu poder e seu dinheiro vem da profissão feminina mais explorada no imaginário masculino - Tieta é a transgressora clássica, a prostituta de berço, nasceu para o sexo e não se arrepende. Foi trabalhar na única coisa que ela sabia fazer. E fazia bem. Ganhou prestígio, influência e muito dinheiro. Um dinheiro renascido do pecado que a escorraçou da cidade. Um pecado cujo lucro atiça a ganância e a hipocrisia locais.

Por último, Maria Imaculada, a nova cabritinha. É aquele que incorpora o espírito da jovem Tieta. A aluna que por um momento supera o mestre. Imaculada seduz Ricardo, seminarista e filho de Perpétua, enquanto este está tendo um caso com a tia Tieta. Cardo, como é chamado, é o menino dos olhos da mãe, o filho que ela prometera entregar a Deus. Por outro lado, tem uma virilidade velada, que se expande fora das vistas do grande público, que a volúpia de Tieta acaba por lapidar - para Imaculada aproveitar. Imaculada é responsável pelo primeiro par de chifres colocado na cabeça de Tieta. É como ser traída por si mesma, provando do proprio veneno.


Tieta do Agreste, filme de Cacá Diegues (1996)

Mas a vingança, como diria Tácito, é um prazer. E o final de Imaculada é o mesmo da jovem Tieta: saindo da cidade para ser prostituta na grande São Paulo. Empregada de ninguém menos que da poderosa Mme. Antoinette.

Mme. Antoinette. O alter-ego de Tieta. A personificação do seu pecado, que também é o seu talento. Jorge Amado nos conta, de maneira leve, como a hipocrisia chauvinista enxerga a sexualidade feminina - tanto num ambiente retrógrado e primitivo como Santana do Agreste, quanto nos centros urbanos. E nos mostra também como um mulher usa o chauvinismo a seu favor, de certa forma troçando as vaidades masculina e feminina, e vencendo ao fazer exatamente aquilo que o homem mais teme em imaginar: a liberação do sexo.


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domingo, 26 de setembro de 2010

SO CRUEL...SO TRUE (frases que não são fáceis de ouvir...porque são a pura verdade)



O homem é mais propício a retribuir um prejuízo do que um benefício. Porque a gratidão é um FARDO; e a vingança, um PRAZER.
Tácito (55 – 120 d.C), historiador romano





As lágrimas são sagradas. Não são a marca da fraqueza, mas da força. São mensageiras da dor avassaladora e do amor indescritível.
Washington Irving (1783 – 1859), escritor americano
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sábado, 25 de setembro de 2010

CAMINHADA

 

Ando nas pontas dos dedos
sou areia fina no vento
queria parar um instante de tempo
queria guardar todos os segredos
e o ar gelado, e frio e quente
é só uma sensação
é parte do medo
meus pés são brinquedo
mal tocam o chão
minha voz é um sonho
um som sem semente.
Ando sem paz nem desejo
Não paro, não revejo
o que deixei para trás
Meu choro não é mais
Meu riso é uma lágrima
e meus mais belos pecados
são a memória dos meus bocados
são uma dádiva.


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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Depois de Nelson Rodrigues, vem aí em Mulheres que Pecam...


...as pecadoras de


JORGE AMADO

jorge_amado
Jorge Leal Amado de Faria (Itabuna, 10 de agosto de 1912Itabuna, 6 de agosto de 2001) foi um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros de todos os tempos. Existem dúvidas sobre o exato local de nascimento de Jorge Amado. Alguns biógrafos indicam que o seu nascimento se deu na Fazenda Auricídia, à época município de Ilhéus. Mais tarde as terras da fazenda Auricídia ficaram no atual município de Itajuípe, com a emancipação do distrito ilheense de Pirangy. Entretanto, é certo que Jorge Amado foi registrado no povoado de Ferradas, pertencente a Itabuna. Amado foi superado, em número de vendas, apenas por Paulo Coelho mas, em seu estilo - o romance ficcional -, não há paralelo no Brasil. Em 1994 viu sua obra ser reconhecida com o Prêmio Camões, o Nobel da língua portuguesa. Ele é o autor mais adaptado da televisão brasileira, verdadeiros sucessos como Tieta, Gabriela e Tereza Batista são criações suas, além de Dona Flor e Seus Dois Maridos. A obra literária de Jorge Amado conheceu inúmeras adaptações para cinema, teatro e televisão, além de ter sido tema de escolas de samba por todo o Brasil. Seus livros foram traduzidos em 55 países, em 49 idiomas, existindo também exemplares em braille e em fitas gravadas para cegos. Mesmo dizendo-se materialista, era simpatizante do candomblé, religião na qual exercia o posto de honra de Obá de Xangô no Ilê Opó Afonjá, do qual muito se orgulhava. Amigos que Jorge Amado prezava no candomblé as mães-de-santo Mãe Aninha, Mãe Senhora, Mãe Menininha do Gantois, Mãe Stella de Oxóssi, Olga de Alaketu, Mãe Mirinha do Portão, Mãe Cleusa Millet, Mãe Carmem e o pai-de-santo Luís da Muriçoca. Como Érico Veríssimo e Rachel de Queiroz, é representante do modernismo regionalista (segunda geração do modernismo).
Fonte: Wikipedia


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terça-feira, 21 de setembro de 2010

Sobre uma garota ocupadíssima... mais uma da playlist de Mulheres que Pecam:



About a Girl
(Kurt Cobain – in memorian)


Eu preciso de uma boa companhia
Preciso…de quem queira me ouvir
Eu acho que voce deve servir
Acho.. mas isso você já sabia
Eu vou aproveitar
enquanto me faz esperar
mas nem toda noite voce está
livre
eu sim…

Eu vou esperar o meu momento
Eu espero que voce tenha tempo
Eu também pego uma senha
para que o nosso encontro se mantenha…
E eu vou aproveitar
Enquanto me faz esperar
mas nem toda noite voce está
livre
eu sim…

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sábado, 18 de setembro de 2010

Mais Jane Austen: A razão e a sensibilidade das irmãs Dashwood...

Elinor, Marianne e Margaret Dashwood são três irmãs de personalidades completamente diferentes. A mais velha Elinor é centrada, discreta e com uma visão de mundo profundamente realista; Marianne vive no mundo do romance, e enxerga a vida com olhos de paixão encegueirada, alucinante; e a pequena Margaret, caçula de uma casa cercada de mulheres, divide o seu tempo entre a casa da arvore, e a biblioteca onde devora livros e mapas. As “criaturas racionais” de Jane Austen mais uma vez invadem nosso blog, desta vez com o romance Razão e Sensibilidade, primeiro livro da autora a ser publicado em 1811, sob o pseudônimo “a Lady”.


Capa da primeira edição do livro
onde Austen assina "by a Lady".
Fonte: Wikipedia

Vamos focar na análise das personalidades de Elinor (19 anos) e Marianne (16 anos), que personificam, respectivamente, os substantivos abstratos usados no título. Para começar, Elinor e Marianne são filhas do segundo casamento de Mr. Dashwood, que tem um filho do primeiro casamento. Segundo as leis da época, apenas filhos homens podiam ser herdeiros. Desta forma, quando Mr Dashwood morre no inicio da historia, seu filho John Dashwood herda toda a sua fortuna e, sob a influência da esposa Fanny – ambiciosa e esnobe Fanny –, não provém qualquer ajuda financeira às meia-irmãs. Toda a família de mulheres -  a mãe e as três filhas passa a morar numa casa menor e distante do centro social, graças à generosidade de um parente distante da segunda Mrs. Dashwood.

A estrutura chauvinista e preconceituosa da sociedade da época é detalhadamente retratada no romance – Austen faz questão de caracterizar certos personagens paralelos com a moralidade duvidosa, o preconceito velado, o culto às aparências e ao status; e ao mesmo tempo, desenha personagens que de certa forma, desafiam boa parte desses valores, e acabam pagando por isso.

Elinor e Marianne estão no centro dessa cadeia de personagens desafiadores, mas cada uma desafia o preconceito à sua maneira. Elinor usa a discreção, a total supressão de seus sentimentos, construindo em volta de si um escudo que lhe rende a imagem de uma mulher fria, indiferente. Por outro lado, sua irmã Marianne escolhe a franqueza, a passionalidade e o entusiasmo para lidar com as dificuldades e necessidades que uma vida menos glamorosa irá lhe proporcionar. Além delas e da espevitada Margaret, há uma outra personagem feminina que desafia a moral e o bons costumes da comunidade em que vive. Mas dessa vamos falar mais adiante.

As atitudes de Elinor e Marianne se refletem em todas as situações que ambas enfrentam – e estas incluem lidar com o desejo pelo sexo oposto. Elinor sente-se atraída desde o início da história por Edward Ferrars, irmão de Fanny Dashwood e herdeiro imediato da fortuna dos Ferrars. A atração é recíproca, mas, reservada e cautelosa, Elinor não se deixa flagrar em suas emoções, já que não pertence mais ao círculo social do qual Edward participa. Os dois desenvolvem um amizade tensa, com um sentimento latente, mas não imediatamente identificado por ambos. De forma que Edward pensa não ser correspondido em seus sentimentos, e Elinor pensa não se envolver com alguém que não poderá assumir um compromisso com ela.



Enquanto isso, a bela e iluminada Marianne torna-se fruto do interesse de dois homens: o jovem Willoughby, irreverente e conquistador, mas nada nobre; e o balzáquio Coronel Brendon (35 anos), soldado vivido e marcado por uma forte experiencia amorosa. Marianne apaixona-se intensamente por Willoughby. Os dois vivem uma paixão fulminante e que salta aos olhos da comunidade em que vivem. Teria o namoro entre Marianne e Willoughby chegado às vias de fato? Aparentemente, Austen constroi uma serie de situações que indicam que Willoughby pretendia casar-se com Marianne, embora um compromisso formal jamais tenha sido firmado. Todos esperam um pedido de casamento a qualquer momento. Mas não é bem assim que acontece.

Willoughby inesperadamente troca Marianne por uma rica herdeira da sociedade londrina. Depois, fica-se sabendo que Willoughby fora deserdado pela tia que o sustentava porque engravidara uma moça a quem prometera compromisso. Sem dinheiro, Willoughby decide desposar Sophia Grey, jovem rica e maliciosa, recebendo por isso um pomposo dote. Marianne flagra Willoughby e a noiva num evento em Londres, quando lá estava de passagem com Elinor, e praticamente desiste de viver. Dentro da sua personalidade passional, Marianne se deixa consumir pela dor que para ela, é imensurável: a dor da perda de seu amor. Chega, inclusive, a ficar gravemente doente e à beira da morte. Seu leito é guardado por ninguem menos que a irmã Elinor.

Nessa mesma viagem a Londres, Elinor descobre que Edward está comprometido com a sobrinha de seu tutor, a tola Lucy Steele. Trata-se de uma promessa antiga, anterior a amizade dos dois. Edward manteve o compromisso em segredo porque Lucy também não tem dote. E quando o pretenso noivado é descoberto, Edward é deserdado pela mãe. Elinor e Marianne se decepcionam amorosamente ao mesmo tempo, e a reaçao das duas é completamente adversa: Elinor, ao contrário de Marianne, além de manter um relacionamento cordial com a “rival” Lucy, ainda faz questão de comunicar pessoalmente a Edward que o Cel. Brendon lhe conseguira uma paróquia para administrar, proporcionando-lhe honrar o compromisso firmado com dignidade.

No meio dessa reviravolta amorosa, há a revelação do nome da mulher ludibriada por Willoughby: Eliza Williams. No mundo pequeno criado por Austen, Eliza vem a ser sobrinha do Cel. Brendon, filha de seu grande amor do passado, a cunhada Elizabeth Williams. Uma jovem impulsiva, criada dentro de um casamento infeliz, que se agarra desesperadamente à promessa de um amor que nunca vivenciara em casa. A sua impulsividade lhe rende uma criança ilegitima, e pivô de um escandâlo amoroso. Num aparte crítico, eu diria que não fica claro para mim o real grau de parentesco entre Eliza e o Cel. Brendon, se é sobrinha mesmo ou…bem, de qualquer forma, o caso de Eliza põe mais pimenta na rivalidade entre Brendon e Willoughby que, de certa forma, são a personificação masculina do contraste entre razão e sensibilidade que é o mote do romance.

No final do romance, parece encontrar-se um equilíbrio entre os dois abstratos. Edward é liberado na última hora de seu compromisso, já que Lucy se apaixona pelo seu irmão Robert Ferrars, e casa-se com ele. Solteiro e nivelado socialmente a Elinor, Edward lhe propõe casamento e ela aceita, demonstrando finalmente seus sentimentos por ele. Marianne, depois de sobreviver à doença e à decepção com Willoughby, interessa-se gradativamente pelo Cel Brendon, e aceita seu amor. O final de Marianne até hoje é criticado por alguns leitores, que esperavam que ela regenerasse Willoughby, uma vez que Austen insiste que, apesar de todas as suas falhas, o jovem amava mesmo Marianne. Willoughby termina o romance apaixonado por ela e sendo obrigado a assisti-la casar-se com outro.

Entretanto, era de se esperar que as “criaturas racionais”, equilibradas e decididas vencessem as “finas damas” inconsequentes e romanticas que só pensam em casamento. Porque se não fosse assim, não seria um Jane Austen. A proposta de Razão e Sensbilidade é justamente achar um denominador comum na personalidade feminina, tão comumente associada à volubilidade e superficialismo. No momento em que a pura razão e pura emoção acham um meio de coexistir, também Elinor e Marianne apaziguam as forças dominantes em suas vidas, encontrando cada uma à sua maneira o equilíbrio e a felicidade.

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