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PECADORES CONFESSOS...

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

As pecadoras de Jorge Amado: as mulheres e o sexo em Tieta do Agreste



O livro

A jovem Antonieta, ou simplesmente Tieta, era o que se chama no interior de cabritinha. Pastora de cabras, a ambiguidade de seu apelido também alude a uma menina espevitada, brejeira, que gostava de provocar principalmente o sexo oposto. Nos idos anos do fictício Mangue Seco, Tieta corria as dunas, incorporando a onomatopéia dos cabritos, encorajando e desafiando os homens. Até seu pai olhava-a diferente. Tieta era, se assim pudermos comparar, uma Lolita em estado bruto. Sem cultura, em roupas de chita, e com modos rústicos. Assemelhava-se em grande parte aos animais que tangia. Mas seu apelo erótico e suas escapadelas incomodam muita gente. Até que são delatados pela irmã mais velha, a invejosa Perpétua, fazendo com que seu pai a espanque e expulse de casa e da cidade de Santana do Agreste. No interior, o pátrio poder tem mãos de ferro, e a família é seu território, sobretudo as mulheres.

Mas na história de Tieta do Agreste (1977), Jorge Amado não se resume à juventude da protagonista. O passado é apenas o ponto de partida para o enredo clássico do filho pródigo - ou neste caso, da filha escurraçada que retorna à cidade natal, bem-sucedida e rica, e disposta a influenciar o cotidiano do lugar. Numa narrativa anacrônica e baseada em pontos de vista, Amado nos proporciona acompanhar o amadurecimento do comportamento sexual de Tieta, e também o seu refinamento. E no meio do caminho, constroi pelo viés da capacidade erótica uma série de duplos para a protagonista, de ambos os sexos. Vamos nos ater, é claro, aos duplos femininos que, ao nosso ver, são quatro: Perpetua, a irmã recalcada; Tonha, a madrastra reprimida; Leonora, a filha postiça; e Imaculada, a cabritinha virgem.

Todas estas quatro personas se definem, de uma forma ou de outra, em comparação à forte personalidade de Tieta do Agreste. Perpétua, a antagonista, é aquela cujo comportamento sexual é dramaticamente oposto ao da irmã. Não por opção, mas por falta de oportunidade, ou simplesmente por interesse. Perpétua casou-se uma única vez, com um militar; e enviuvou cedo. Desde então, mantém-se casta, infurnada na igreja e rodeada de beatas mas, entre quatro paredes, troca as orações por uma enorme caixa de presente, onde contempla diariamente o embalsamado membro do seu marido morto. A obsessão de Perpétua é a ausencia do sexo, o voyeurismo, e até um certo masoquismo, impondo uma poderosa nulidade ao proprio corpo. Mas sua mente...sonha, deseja, e o seu símbolo fálico - que neste caso é, literalmente, o falo masculino - está devidamente materializado. Seu sentimento pela irmã liberada, desejada e realizada sexualmente não poderia ser outro senão um ódio deliberado.

Tonha, ao contrário, é a mulher cujo apetite erótico permanece latente, contido pelo dever para com um casamento falido, infeliz. Tonha regula em idade com Tieta, casou-se jovem com o pai da protagonista, e funcionou como um espécie de substituta moralmente aceitável no desejo do marido pela propria filha. A identificação de Tonha com Tieta também se dá na profunda curiosidade sexual, no desejo de experimentar e na capacidade de atrair. Mas Tonha não se vale desses predicados. Presa à um dever de fidelidade conjugal, ela se reprime no comportamento e na aparência. É a típica Amélia, mulher de verdade que não tem a menor vaidade, se contenta com pouco, e trabalha até a exaustão para manter a casa e o marido.



Tieta, novela da Rede Globo (1989)


Leonora e Imaculada já fazem parte da vida da Tieta adulta, quando esta retorna à cidade rica e disposta a mudar a estrutura do lugar. Leonora é a filha emprestada, com um passado violento - foi currada na adolescencia. Neste caso, a juventude e a brejeirice se chocam com o sexo não-consensual. Enquanto Tieta se esgueirava pela reserva de Mangue Seco para se aventurar com os homens, Leonora foi pega por eles à força. Um aspecto sombrio da iniciação sexual que de alguma maneira determina o comportamento sexual da vítima. Leonora é romântica, frágil emocionalmente. Chama sempre Tieta por Maezinha, parece alguem que parou na adolescencia, quando aconteceu o estupro. Volta para Santana do Agreste junto com Tieta e se envolve com um dos figurões da cidade, o político Ascânio, que a tem como uma santa. Mas quando a verdade sobre a fortuna de Tieta vem à tona, as opiniões sobre Leonora mudam completamente.

A historia que Tieta conta a cidade é a de que ela teria casado com um comendador e herdado todo o dinheiro após sua morte. Mas descobre-se que Tieta é, na verdade, Mme. Antoinette, uma das cafetinas mais influentes de São Paulo, com a maioria dos políticos em sua agenda, e que Leonora é uma das suas escorts. Seu poder e seu dinheiro vem da profissão feminina mais explorada no imaginário masculino - Tieta é a transgressora clássica, a prostituta de berço, nasceu para o sexo e não se arrepende. Foi trabalhar na única coisa que ela sabia fazer. E fazia bem. Ganhou prestígio, influência e muito dinheiro. Um dinheiro renascido do pecado que a escorraçou da cidade. Um pecado cujo lucro atiça a ganância e a hipocrisia locais.

Por último, Maria Imaculada, a nova cabritinha. É aquele que incorpora o espírito da jovem Tieta. A aluna que por um momento supera o mestre. Imaculada seduz Ricardo, seminarista e filho de Perpétua, enquanto este está tendo um caso com a tia Tieta. Cardo, como é chamado, é o menino dos olhos da mãe, o filho que ela prometera entregar a Deus. Por outro lado, tem uma virilidade velada, que se expande fora das vistas do grande público, que a volúpia de Tieta acaba por lapidar - para Imaculada aproveitar. Imaculada é responsável pelo primeiro par de chifres colocado na cabeça de Tieta. É como ser traída por si mesma, provando do proprio veneno.


Tieta do Agreste, filme de Cacá Diegues (1996)

Mas a vingança, como diria Tácito, é um prazer. E o final de Imaculada é o mesmo da jovem Tieta: saindo da cidade para ser prostituta na grande São Paulo. Empregada de ninguém menos que da poderosa Mme. Antoinette.

Mme. Antoinette. O alter-ego de Tieta. A personificação do seu pecado, que também é o seu talento. Jorge Amado nos conta, de maneira leve, como a hipocrisia chauvinista enxerga a sexualidade feminina - tanto num ambiente retrógrado e primitivo como Santana do Agreste, quanto nos centros urbanos. E nos mostra também como um mulher usa o chauvinismo a seu favor, de certa forma troçando as vaidades masculina e feminina, e vencendo ao fazer exatamente aquilo que o homem mais teme em imaginar: a liberação do sexo.


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domingo, 26 de setembro de 2010

SO CRUEL...SO TRUE (frases que não são fáceis de ouvir...porque são a pura verdade)



O homem é mais propício a retribuir um prejuízo do que um benefício. Porque a gratidão é um FARDO; e a vingança, um PRAZER.
Tácito (55 – 120 d.C), historiador romano





As lágrimas são sagradas. Não são a marca da fraqueza, mas da força. São mensageiras da dor avassaladora e do amor indescritível.
Washington Irving (1783 – 1859), escritor americano
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sábado, 25 de setembro de 2010

CAMINHADA

 

Ando nas pontas dos dedos
sou areia fina no vento
queria parar um instante de tempo
queria guardar todos os segredos
e o ar gelado, e frio e quente
é só uma sensação
é parte do medo
meus pés são brinquedo
mal tocam o chão
minha voz é um sonho
um som sem semente.
Ando sem paz nem desejo
Não paro, não revejo
o que deixei para trás
Meu choro não é mais
Meu riso é uma lágrima
e meus mais belos pecados
são a memória dos meus bocados
são uma dádiva.


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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Depois de Nelson Rodrigues, vem aí em Mulheres que Pecam...


...as pecadoras de


JORGE AMADO

jorge_amado
Jorge Leal Amado de Faria (Itabuna, 10 de agosto de 1912Itabuna, 6 de agosto de 2001) foi um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros de todos os tempos. Existem dúvidas sobre o exato local de nascimento de Jorge Amado. Alguns biógrafos indicam que o seu nascimento se deu na Fazenda Auricídia, à época município de Ilhéus. Mais tarde as terras da fazenda Auricídia ficaram no atual município de Itajuípe, com a emancipação do distrito ilheense de Pirangy. Entretanto, é certo que Jorge Amado foi registrado no povoado de Ferradas, pertencente a Itabuna. Amado foi superado, em número de vendas, apenas por Paulo Coelho mas, em seu estilo - o romance ficcional -, não há paralelo no Brasil. Em 1994 viu sua obra ser reconhecida com o Prêmio Camões, o Nobel da língua portuguesa. Ele é o autor mais adaptado da televisão brasileira, verdadeiros sucessos como Tieta, Gabriela e Tereza Batista são criações suas, além de Dona Flor e Seus Dois Maridos. A obra literária de Jorge Amado conheceu inúmeras adaptações para cinema, teatro e televisão, além de ter sido tema de escolas de samba por todo o Brasil. Seus livros foram traduzidos em 55 países, em 49 idiomas, existindo também exemplares em braille e em fitas gravadas para cegos. Mesmo dizendo-se materialista, era simpatizante do candomblé, religião na qual exercia o posto de honra de Obá de Xangô no Ilê Opó Afonjá, do qual muito se orgulhava. Amigos que Jorge Amado prezava no candomblé as mães-de-santo Mãe Aninha, Mãe Senhora, Mãe Menininha do Gantois, Mãe Stella de Oxóssi, Olga de Alaketu, Mãe Mirinha do Portão, Mãe Cleusa Millet, Mãe Carmem e o pai-de-santo Luís da Muriçoca. Como Érico Veríssimo e Rachel de Queiroz, é representante do modernismo regionalista (segunda geração do modernismo).
Fonte: Wikipedia


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terça-feira, 21 de setembro de 2010

Sobre uma garota ocupadíssima... mais uma da playlist de Mulheres que Pecam:



About a Girl
(Kurt Cobain – in memorian)


Eu preciso de uma boa companhia
Preciso…de quem queira me ouvir
Eu acho que voce deve servir
Acho.. mas isso você já sabia
Eu vou aproveitar
enquanto me faz esperar
mas nem toda noite voce está
livre
eu sim…

Eu vou esperar o meu momento
Eu espero que voce tenha tempo
Eu também pego uma senha
para que o nosso encontro se mantenha…
E eu vou aproveitar
Enquanto me faz esperar
mas nem toda noite voce está
livre
eu sim…

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sábado, 18 de setembro de 2010

Mais Jane Austen: A razão e a sensibilidade das irmãs Dashwood...

Elinor, Marianne e Margaret Dashwood são três irmãs de personalidades completamente diferentes. A mais velha Elinor é centrada, discreta e com uma visão de mundo profundamente realista; Marianne vive no mundo do romance, e enxerga a vida com olhos de paixão encegueirada, alucinante; e a pequena Margaret, caçula de uma casa cercada de mulheres, divide o seu tempo entre a casa da arvore, e a biblioteca onde devora livros e mapas. As “criaturas racionais” de Jane Austen mais uma vez invadem nosso blog, desta vez com o romance Razão e Sensibilidade, primeiro livro da autora a ser publicado em 1811, sob o pseudônimo “a Lady”.


Capa da primeira edição do livro
onde Austen assina "by a Lady".
Fonte: Wikipedia

Vamos focar na análise das personalidades de Elinor (19 anos) e Marianne (16 anos), que personificam, respectivamente, os substantivos abstratos usados no título. Para começar, Elinor e Marianne são filhas do segundo casamento de Mr. Dashwood, que tem um filho do primeiro casamento. Segundo as leis da época, apenas filhos homens podiam ser herdeiros. Desta forma, quando Mr Dashwood morre no inicio da historia, seu filho John Dashwood herda toda a sua fortuna e, sob a influência da esposa Fanny – ambiciosa e esnobe Fanny –, não provém qualquer ajuda financeira às meia-irmãs. Toda a família de mulheres -  a mãe e as três filhas passa a morar numa casa menor e distante do centro social, graças à generosidade de um parente distante da segunda Mrs. Dashwood.

A estrutura chauvinista e preconceituosa da sociedade da época é detalhadamente retratada no romance – Austen faz questão de caracterizar certos personagens paralelos com a moralidade duvidosa, o preconceito velado, o culto às aparências e ao status; e ao mesmo tempo, desenha personagens que de certa forma, desafiam boa parte desses valores, e acabam pagando por isso.

Elinor e Marianne estão no centro dessa cadeia de personagens desafiadores, mas cada uma desafia o preconceito à sua maneira. Elinor usa a discreção, a total supressão de seus sentimentos, construindo em volta de si um escudo que lhe rende a imagem de uma mulher fria, indiferente. Por outro lado, sua irmã Marianne escolhe a franqueza, a passionalidade e o entusiasmo para lidar com as dificuldades e necessidades que uma vida menos glamorosa irá lhe proporcionar. Além delas e da espevitada Margaret, há uma outra personagem feminina que desafia a moral e o bons costumes da comunidade em que vive. Mas dessa vamos falar mais adiante.

As atitudes de Elinor e Marianne se refletem em todas as situações que ambas enfrentam – e estas incluem lidar com o desejo pelo sexo oposto. Elinor sente-se atraída desde o início da história por Edward Ferrars, irmão de Fanny Dashwood e herdeiro imediato da fortuna dos Ferrars. A atração é recíproca, mas, reservada e cautelosa, Elinor não se deixa flagrar em suas emoções, já que não pertence mais ao círculo social do qual Edward participa. Os dois desenvolvem um amizade tensa, com um sentimento latente, mas não imediatamente identificado por ambos. De forma que Edward pensa não ser correspondido em seus sentimentos, e Elinor pensa não se envolver com alguém que não poderá assumir um compromisso com ela.



Enquanto isso, a bela e iluminada Marianne torna-se fruto do interesse de dois homens: o jovem Willoughby, irreverente e conquistador, mas nada nobre; e o balzáquio Coronel Brendon (35 anos), soldado vivido e marcado por uma forte experiencia amorosa. Marianne apaixona-se intensamente por Willoughby. Os dois vivem uma paixão fulminante e que salta aos olhos da comunidade em que vivem. Teria o namoro entre Marianne e Willoughby chegado às vias de fato? Aparentemente, Austen constroi uma serie de situações que indicam que Willoughby pretendia casar-se com Marianne, embora um compromisso formal jamais tenha sido firmado. Todos esperam um pedido de casamento a qualquer momento. Mas não é bem assim que acontece.

Willoughby inesperadamente troca Marianne por uma rica herdeira da sociedade londrina. Depois, fica-se sabendo que Willoughby fora deserdado pela tia que o sustentava porque engravidara uma moça a quem prometera compromisso. Sem dinheiro, Willoughby decide desposar Sophia Grey, jovem rica e maliciosa, recebendo por isso um pomposo dote. Marianne flagra Willoughby e a noiva num evento em Londres, quando lá estava de passagem com Elinor, e praticamente desiste de viver. Dentro da sua personalidade passional, Marianne se deixa consumir pela dor que para ela, é imensurável: a dor da perda de seu amor. Chega, inclusive, a ficar gravemente doente e à beira da morte. Seu leito é guardado por ninguem menos que a irmã Elinor.

Nessa mesma viagem a Londres, Elinor descobre que Edward está comprometido com a sobrinha de seu tutor, a tola Lucy Steele. Trata-se de uma promessa antiga, anterior a amizade dos dois. Edward manteve o compromisso em segredo porque Lucy também não tem dote. E quando o pretenso noivado é descoberto, Edward é deserdado pela mãe. Elinor e Marianne se decepcionam amorosamente ao mesmo tempo, e a reaçao das duas é completamente adversa: Elinor, ao contrário de Marianne, além de manter um relacionamento cordial com a “rival” Lucy, ainda faz questão de comunicar pessoalmente a Edward que o Cel. Brendon lhe conseguira uma paróquia para administrar, proporcionando-lhe honrar o compromisso firmado com dignidade.

No meio dessa reviravolta amorosa, há a revelação do nome da mulher ludibriada por Willoughby: Eliza Williams. No mundo pequeno criado por Austen, Eliza vem a ser sobrinha do Cel. Brendon, filha de seu grande amor do passado, a cunhada Elizabeth Williams. Uma jovem impulsiva, criada dentro de um casamento infeliz, que se agarra desesperadamente à promessa de um amor que nunca vivenciara em casa. A sua impulsividade lhe rende uma criança ilegitima, e pivô de um escandâlo amoroso. Num aparte crítico, eu diria que não fica claro para mim o real grau de parentesco entre Eliza e o Cel. Brendon, se é sobrinha mesmo ou…bem, de qualquer forma, o caso de Eliza põe mais pimenta na rivalidade entre Brendon e Willoughby que, de certa forma, são a personificação masculina do contraste entre razão e sensibilidade que é o mote do romance.

No final do romance, parece encontrar-se um equilíbrio entre os dois abstratos. Edward é liberado na última hora de seu compromisso, já que Lucy se apaixona pelo seu irmão Robert Ferrars, e casa-se com ele. Solteiro e nivelado socialmente a Elinor, Edward lhe propõe casamento e ela aceita, demonstrando finalmente seus sentimentos por ele. Marianne, depois de sobreviver à doença e à decepção com Willoughby, interessa-se gradativamente pelo Cel Brendon, e aceita seu amor. O final de Marianne até hoje é criticado por alguns leitores, que esperavam que ela regenerasse Willoughby, uma vez que Austen insiste que, apesar de todas as suas falhas, o jovem amava mesmo Marianne. Willoughby termina o romance apaixonado por ela e sendo obrigado a assisti-la casar-se com outro.

Entretanto, era de se esperar que as “criaturas racionais”, equilibradas e decididas vencessem as “finas damas” inconsequentes e romanticas que só pensam em casamento. Porque se não fosse assim, não seria um Jane Austen. A proposta de Razão e Sensbilidade é justamente achar um denominador comum na personalidade feminina, tão comumente associada à volubilidade e superficialismo. No momento em que a pura razão e pura emoção acham um meio de coexistir, também Elinor e Marianne apaziguam as forças dominantes em suas vidas, encontrando cada uma à sua maneira o equilíbrio e a felicidade.

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terça-feira, 14 de setembro de 2010

BÁLSAMO


O teu sorriso
é um minuto que passa
é um instante de graça
é um paraíso
são tantas histórias
que eu não preciso
são tantas horas
e minha memória
é o teu sorriso.

O teu sorriso
é um abraço
é um espaço
onde eu me insisto
são tantos mitos
que eu me permito
que eu só existo
no teu sorriso.


O teu sorriso
é o meu verso
é um universo
é um aviso
são tantos espelhos
onde eu me avisto
que eu só não resisto
ao teu sorriso.

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domingo, 12 de setembro de 2010

GANHE LIVROS!!!

Aqui vão duas promoções em andamento para voce que gosta de ler. Ainda dá tempo de participar!

1) o site La Sorciére estará sorteando um combo com os dois livros de Liz Gilbert: Comer, Rezar, Amar (que virou filme!) e Comprometida. Clique na imagem e garanta o seu número:





2) O site SKOOB também presenteará seus membros com um de dois prêmios: um I-pad ou 100 livros. A escolha é sua. Clique na imagem, cadastre-se e boa sorte!



Nada melhor do que manter o prazer de ler sem gastar um tostão...
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sábado, 11 de setembro de 2010

CARMEM


Ela ficou ali, sentada na calçada, por algum tempo.  Estava descalça, descabelada, desenxabida, sem rumo. Não podia acreditar no que tinha acontecido. Dez anos de casamento. Dez anos! E ela dividira a cama com um estranho, todos aqueles dias.

A idéia do jantar foi de uma amiga do trabalho. Velas e rosas, queijos, vinhos, boa comida. Um vestido sexy. Perfume. “Essas coisas que a gente faz quando quer chamar atenção de um homem”, ela dizia. A atenção dele já não era a mesma há muito tempo. Mas dez anos…é muito tempo, ela pensava. Provavelmente ela também não dava a mesma atenção a ele. Não era justo olhar só para o próprio umbigo…não é?

Ela não sabia, mas o jantar ela podia fazer. Não custava.

Então ela chegou em casa cedo, para preparar tudo. Cenário, figurino, cardápio, tudo. Era excitante ter um plano, uma conquista. Tantas horas no carro, no banheiro, no computador, em frente a TV…era bom não querer saber o que ia acontecer na novela, ou se o projeto ia ficar pronto como o chefe pediu. Era bom não ter rotina. Naquela hora mágica em que temos um plano, tudo parece ser possível, tudo pode acontecer.

E aconteceu.

Quando ela abriu a porta, ouviu vozes. Risos. Sons abafados. Tinha um cheiro profundamente forte no ar. E champanhe sobre a pia da cozinha.
Tirou os sapatos para não fazer barulho. Sentia que o quer que fosse, não era algo bom. Então, precisava contar com o silêncio.

Foi andando devagar até a porta do quarto que achava ser seu. Quando abriu a porta, descobriu que não era. Era só dele. Dele e da vagabunda que se mexia em cima dele nos lençóis que ela lavara um dia antes.

Fez questão de bater a porta.

“Carmem?”

Sem dizer nada, ela foi em direção a cama, recolhendo com uma das mãos todas as roupas jogadas pelo caminho…

“Amor, eu posso explicar…”

…e com a outra mão, arrancou num único golpe a vagadunda nua de cima da cama, derrubando-a no chão…

“Carmem”

Sem perder um segundo sequer, Carmem arrastou a mulher pelos cabelos, usando toda a sua força de mulher aviltada, até a porta da rua.  De algum lugar, parecia ouvir seu nome. Uma voz do passado talvez. Alguém que a seguia, nu como veio ao mundo. Alguém que para ela não existia mais…

Deu graças a Deus que a porta da casa ainda estava aberta. Assim podia jogar a vagabunda bem no meio do asfalto, e ainda trancar do lado de fora o idiota nu que a seguira.

Trancou também a porta dos fundos. As janelas já estavam fechadas. As roupas dos dois ainda estavam em suas mãos.

Colocou-as dentro do cesto de roupa suja, junto com todas as roupas dele. Derramou uma garrafa inteira de alcool dentro do cesto. E foi lá para o lado de fora, saindo pelos fundos. Colocou o cesto no meio da rua, abriu, riscou um fósforo. E só então falou:

“Não quero nada seu aqui dentro. Nenhum dos seus disfarces, das suas máscaras. Por mim, voce pode andar pelado pro resto da vida. Porque assim voce não vai enganar mais ninguém…”

De repente, luzes e sirenes. A policia foi avisada sobre um casal nu andando em volta de um cesto em chamas. Quando a patrulha chegou, eles já tinham se escondido em outro lugar.

Só Carmem ficara ali, sentada na calçada, descalça, desenxabida, olhando o fogo queimar dez anos da sua vida. Um sorriso masoquista iluminou seu rosto.

E nos olhos, só uma lágrima.

Pelo fim de uma mentira era mais que suficiente.

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segunda-feira, 6 de setembro de 2010

CRIMINOSA - O hino das Madalenas Arrependidas...mas nem tanto (adoro essa música)



 
Criminal
(Fiona Apple)
 
Eu tenho sido muito, muito má
Eu descuidei de um bom homem
E é um mundo muito triste
Onde uma mulher magoa um homem
Só porque ela pode
Não me diga para negar
Eu errei e quero pagar
Por meus pecados
Eu vim até você
Porque na verdade
preciso me orientar
E eu não sei por onde começar
O que eu preciso
É de uma boa defesa
Porque eu me sinto uma criminosa
E eu preciso me redimir
Diante de quem eu pequei
Porque ele é tudo que eu já soube
Sobre o amor...
Que Deus perdoe a minha natureza
E me salve das minhas maldades
Antes que eu as faça
Eu sei que o futuro traz
Todas as conseqüências
Mas eu continuo vivendo
Como se o amanhã não viesse
Ah, me ajude
Mas não me peça para negar
Eu preciso me livrar das mentiras
Para me tornar boa o bastante
Eu tenho muito a perder
E estou apostando alto
Então estou pedindo
Me diga apenas por onde começar
Me ensine o caminho
Antes que eu vá para o inferno
Me de a direção certa
E me deixe ir em frente
Eu tenho que dar um show
Para o meu amor ficar
O que um anjo poderia falar?
Este demônio quer saber...


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domingo, 5 de setembro de 2010

Mulheres que Pecam em Jane Austen - O "Orgulho e Preconceito" de Elizabeth Bennet

Cenas do filme Pride and Prejudice (2005)

Ler a obra da escritora inglesa Jane Austen (1775-1817) é como ler o nosso José de Alencar - é um retrato aguçado, porém crítico de sua própria época. Como em Alencar, a ironia profunda da obra de Jane Austen só podia ser sentida se perscrutada sob a casca da extensa caracterização dos costumes da Inglaterra georgiana/vitoriana, presente em todas as suas narrativas. Pessoalmente, Austen era uma mulher inteligente, auto-didata, e provavelmente com uma cultura superior à permitida para as mulheres da sua época - já que o pai, Reverendo Austen, trabalhava também como tutor na educação de crianças abastadas e era dono de uma extensa biblioteca. Criada em volta dos livros, acostumada a ler e a refletir seus proprios pensamentos em escritos precoces - as suas primeiras narrativas datam dos seus 16 anos - Jane desenvolveu muito cedo uma sensatez e uma gama de interesses incomum para o seu sexo que, segundo ela mesma, de forma geral buscava freneticamente nada mais que um bom casamento. Coincidencia ou não, Austen morreu do que hoje conhecemos por Doença de Addison, aos 41 anos, sem jamais ter se casado.

A questão de como e em que se deve educar as mulheres, assim como as manhas e artimanhas femininas para conseguirem casar-se, estão descritas de forma extensiva da obra de Austen. Em Pride and Prejudice (1813) esta temática está centrada na familia Bennet - o reservado Mr Bennet, a inconveniente Mrs Bennet e as cinco filhas: Jane (22), Elizabeth (20), Mary (18), Catherine (17) e Lydia (15). Cada uma das meninas com um aspecto marcante em suas personalidades. Entre a beleza e a ingenuidade de Jane e a voluntariosa imaturidade de Lydia, temos, como principal divisor de águas, a sagacidade com que Elizabeth Bennet constroi a maioria dos pontos de vista que compõem a narrativa de Austen. Uma peculiaridade nas construções de Elizabeth, porém, é a sua tendência a se deixar influenciar pelas primeiras impressões, pela imagem aparentemente inescrutável das situações e pessoas. É por esse viés que se estabelece, em principio, uma relação de mutua animosidade entre Elizabeth e Fitzwilliam Darcy, um aristocrata em visita ao condado onde moram os Bennet. O distanciamento que Mr. Darcy impõe à sociedade ruralista local acaba por taxá-lo de orgulhoso por todos, inclusive pela sagaz Elizabeth.

O orgulho, porém, não é característica exclusiva da personalidade de Darcy - Elizabeth também se orgulha das proprias conclusões sobre a conduta daqueles à sua volta. O seu julgamento do outro é completamente unilateral. Assim como Darcy não se deixa envolver pela sociedade local, Elizabeth mantém sua própria distância de Darcy, e julga conhecê-lo a partir deste distanciamento. É interessante a forma como Austen constrói esse espelho entre Darcy e Elizabeth de tal maneira que o título do romance se aplica de forma igual aos dois personagens. Não se pode dizer que orgulho se refere a Darcy enquanto preconceito define exclusivamente Elizabeth e vice-versa. Ambos possuem um pouco dos dois aspectos. O que nos remete também ao fato de Elizabeth, sendo mulher, ser capaz de construir uma identidade que de outro modo, seria tipicamente chauvinista. O feminino de Elizabeth não é o "feminino" como o entende as sociedades do romance  e da "vida real" - ou seja, da Inglaterra do sec. XIX. Quando define a narrativa sob o ponto de vista de Elizabeth, Austen confere ao romance uma aura feminina e racional, que é como a escritora defende a formação da mulher, como bem vimos na citação do nosso post anterior.

Assim, Elizabeth mantém durante toda a narrativa um postura perspicaz, porém tendenciosa, enquanto apresenta a si mesma de maneira "rebelde", isto é, sem a preocupação em se "educar" para o casamento, sem habilidades extraordinárias nem prendas, sem floreios. Uma mulher que gosta de ler, de conversar, que expõe suas opiniões de maneira direta, sem fugir a eventuais enfrentamentos. Como quando recusa o pedido de casamento do pedante Mr Collins e num primeiro momento, do próprio Darcy. Ou quando é confrontada pela tia aristocrata de Darcy sobre o seu interesse no rapaz. Enfim, uma mulher independente que, por isso mesmo, já é profundamente só. Mas a solidão não seria um final possível para as heroínas de Austen.

Elizabeth começa a enxergar o verdadeiro Darcy quando a Lydia Bennet foge com o pilantra George Whickam, provocando um escandalo que pode comprometer o futuro de todas as outras irmãs. Darcy usa o tio de Elizabeth para patrocinar o casamento entre Whickam e Lydia, que retorna à cidade como se nada tivesse acontecido, e o seu casamento tivesse sido o mais convencional de todos. Whickam, até então visto por Elizabeth como vítima da intransigência de Darcy, já havia na verdade seduzido a irmã deste, Georgiana. Diante da descoberta de que Darcy se esforçou para emendar a situação de Lydia, Elizabeth tem o seu orgulho e suas convicções testadas, e lentamente estas caem por terra.

A paixão por Darcy é o unico caminho emocional possível para Elizabeth. No ambiente construído pela narrativa, Darcy é o unico homem capaz de compreendê-la e aceitá-la. O amadurecimento emocional da heróina passa por um desenvolvimento psíquico fundamental - o de aliar a sua natureza questionadora ao seu legado como mulher de seu tempo. O casamento para Elizabeth só pode se basear na cumplicidade com o parceiro, que ela encontra no já apaixonado Darcy. Dessa forma, ela consegue unir a sua necessidade como ser racional à necessidade da mulher de seu tempo, que só tem voz através do marido. Elizabeth e Darcy, através de seus amadurecimentos, acabam por construir uma relação baseada em entendimento e respeito mutuos, além de uma tensão sexual irresistivel: "Você enfeitiçou meu corpo e espírito e eu amo, amo, amo voce", afirma um corajoso e romantico Darcy no final do romance, ao pedir Elizabeth em casamento pela segunda vez.




Os casamentos então, somam-se no final feliz de Pride and Prejudice. Mas, independente disso, Austen deixa uma voz intermitente na figura da alegre, sagaz, ferina e apaixonada Elizabeth. Que a mulher não seja pura e simplesmente uma "fina dama". Que seja capaz de ter sua opiniao, ainda que equivocada. "Ninguem deseja a calmaria para o resto da vida", afirma a escritora. E embora tenha terminado seus dias sozinha, Austen faz questão de dar a todas as suas heroinas uma total realização emocional, promovendo o equilibrio entre a voz feminina e o papel concedido a elas pela sociedade.


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sábado, 4 de setembro de 2010

Mais Mulheres que Pecam...



Eu odeio que falem das mulheres como se fossem finas damas em vez de criaturas racionais. Ninguem quer segurança pelo resto da vida.

Jane Austen
(1775 – 1817)

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quinta-feira, 2 de setembro de 2010

ECO

       

Sinto falta...
Do corpo em pedaços
Do amor que não sinto
De uma alma partida
De um endereço;
Da falta de espaço,
De um labirinto
De uma outra vida,
De quem não conheço…

Sinto falta do tempo
Do sofrimento e
Da suprema felicidade


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quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Uma última do mestre...


O verdadeiro dramaturgo, o que não falsifica, não trapaceia, limita-se a cavar na carne e na alma, a trabalhar nas paixões sem esperanças, que arrancam de nós o gemido mais fundo e irredutível. Isso faz sofrer, dirão. De acordo. Mas o teatro não é um lugar de recreio irresponsável. Não. É, antes, um pátio de expiação. Talvez fosse mais lógico que vivêssemos as peças, não sentados, mas atônitos e de joelhos. Pois o que ocorre no palco é o julgamento do nosso mundo, o nosso próprio julgamento, o julgamento do que pecamos e poderíamos ter pecado.

Nelson Rodrigues
(1912 - 1980)

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