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PECADORES CONFESSOS...

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

MULHERES QUE PECAM N. 7 - Edição Especial p. III

Para terminar esta edição especial, vamos falar da mais polêmica das figuras femininas dentro da narrativa da Bíblia: Maria Madalena. Figura profundamente controversa, cuja origem e história não estão descritas de forma clara nos evangelhos do Novo Testamento, Madalena é a mais mencionada companhia feminina de Jesus Cristo, depois da Virgem Maria. Creio que podemos dizer que Madalena seria uma das visões de amor que cercam a historia de Jesus.



Assim como o amor de Maria, o amor simbolizado na figura de Madalena não é algo que vá estar explicitado nos livros canônicos. O amor materno é uma demonstração de poder associado à femininidade e carrega consigo um forte apelo emocional, e erótico. O amor romântico é desestrurador, sujeito às vicissitudes da carne e, por conseguinte, desestabiliza o discernimento. A volubilidade do amor romântico também é um aspecto frequentemente associado ao feminino. Nenhum desses sentimentos, portanto, é pertinente à narrativa canônica. Os evangelhos do Novo Testamento tem a sua narrativa estruturada de modo a enfatizar cada vez menos a HUMANIDADE de Jesus, e consequentemente, cada vez mais a sua DIVINDADE. O carater híbrido da personalidade de Jesus Cristo é algo dificil de ser assimilado pelo leitor leigo do texto bíblico conforme está organizado. Isto porque os evangelhos procuram focar a oratória de Jesus, o seu ensinamento, a sua mensagem. A sua capacidade relacional, os seus vínculos familiares e afetivos não são foco nas narrativas dos apóstolos. O amor maternal e o amor romântico não estão entre as visões de amor atribuídas à Jesus. É o amor fraternal - e, mais ainda, o amor paternal - que merece destaque nas narrativas.

Assumindo a ideia de que Maria Madalena corresponde à personificação do amor romântico em relação a Jesus, é possível constatar que a construção da personagem Maria Madalena fica fortemente influenciada pelo objetivo principal da narrativa que é reforçar a divindade de Jesus, fortalecer a imagem do Cristo como o Filho de Deus, e não como um ser humano suscetível a fraquezas, defeitos e/ou desejos. Assim, a identidade de Madalena, as suas origens e a sua personalidade são frequentemente apresentadas de forma obscura. Há diversas menções de mulheres com o mesmo nome - Maria - nos livros dos apóstolos: uma delas, inclusive, é uma prostituta; a outra, uma mulher possuida por sete demonios a qual Jesus libertara. As interpretações geradas pela ambiguidade em torno dessas personagens fizeram com que elas fossem associadas à Maria Madalena, inclusive pelo papado. Até hoje, temos no inconsciente coletivo a imagem de Madalena como a prostituta redimida de seus pecados por amor a Jesus Cristo.


Há ainda os polêmicos Evangelhos apócrifos, que conteriam inclusive um Evangelho escrito pela própria Maria Madalena. Estes livros pintam uma Madalena culta, uma mulher com um grau de compreensão da palavra de Jesus superior inclusive aos dos apóstolos. Uma mulher que seria a companheira, o alter ego feminino do Cristo. Se Deus criou uma companheira para todos os homens, seria tão incongruente assim supor que Ele criaria uma companheira também para o seu filho? Essa visão do amor romantico seria assim tão herética, tão desviadora de missão de Cristo como o Salvador, que precise ser extirpada dos livros? Sendo Cristo humano e divino, não seria justo supor que a sua capacidade de amar transcendesse a caritas (caridade)? Essas questões são explicitadas a partir do momento em que se tenta preencher as lacunas na concepção da Maria Madalena descrita nos livros do cânone bíblico. A imagem da mulher promíscua, pecadora, convertida e submissa à vontade do seu Senhor é útil no sentido de denegrir Madalena aos olhos do leitor laico, e adequá-la a imagem do feminino que perpetua o inconsciente masculino desde Eva.

De qualquer forma, a personagem Maria Madalena permanece misteriosa, e sua influência na trajetória de Jesus, assim como a de Virgem Maria, não fica clara nos livros canônicos. Se analisarmos apenas o discurso bíblico, não temos como afirmar quem era, como viveu e nem como acabou Maria Madalena. Por outro lado, embora as narrativas do Novo Testamento procurem via de regra associar Madalena unica e exclusivamente aos vícios da humanidade - contrastando, portanto, com a superioridade divina do Cristo - deixa-se escapar que Madalena era a figura feminina mais próxima de Jesus, e que gozava de certa deferência, já que - como a propria narrativa canonica admite - é para ela que o Jesus ressuscitado aparece em primeiro lugar. É Madalena a única mulher (além da Virgem Maria) quem guarda o túmulo de Jesus, e é ela quem primeiro descobre a sua violação e o desaparecimento do corpo de Cristo. Se olharmos com atenção, veremos que Madalena confere a Jesus a subserviencia de uma esposa, e uma esposa apaixonada... Mas, obviamente, esta é uma história ainda a ser (re)escrita.

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terça-feira, 22 de dezembro de 2009

MULHERES QUE PECAM N. 7 - Edição Especial p.II


Em contraponto ao mito de Eva, temos a incontestável figura de Maria, a mulher que concebeu imaculada o Deus-homem. Maria não é uma deusa, mas o que a cultura cristã chama de "santa", um ser humano iluminado, tocado com o desígnio do Divino, destacado para uma missão que exige uma fé incondicional. Maria talvez seja a única figura feminina da Bíblia no qual se exercita inteiramente essa total contemplação do divino, esse êxtase missionário que é também uma sublimação da fé.
"Faça-se". Com essas palavras Maria autoriza o anjo a invadi-la com o Espírito Santo e assim, entrega seu corpo intocado à concepção do Salvador. A força dessa passagem bíblica dentro do inconsciente coletivo é extraordinária - denota um total desprendimento, um abandono da curiosidade, do desejo e de qualquer ambição maior. Maria não ambiciona o divino; ela se torna o seu instrumento. Por sua propria escolha, Maria recusa sua natureza-MULHER, resumindo-a inteiramente à sua natureza-MÃE. Sim, Maria é o pressuposto da maternidade, o maior poder que o feminino pode impor ao homem. A mulher que gerou o Cristo, no entanto, não poderia ser uma discípula de Eva. Maria tinha de ser, por força do dogma cristão, um duplo perfeito do mito da primeira mulher.
E ainda assim, há que se considerar. Maria tinha um pretendente humano, José. Como explicar a ele uma gravidez imaculada? Como explicar à sua comunidade? Era preciso uma dose de coragem para assumir diante de todos o que poderia ser entendido mais facilmente como pecado. É interessante a narrativa bíblica para Maria, contraditória e sutil. A personagem é construída em torno do poder da maternidade e da criança que seria trazida ao mundo; também em torno do poder do divino, e da imensurável fé da virgem para suportar a desconfiança alheia. É importante dizer, neste momento, que o ritual cristão não é o único em que o deus escolhe a virgem para o sacrificio da concepção e o desafio de carregar a herança divina. O incubo (união de um ser humano com um ser divino) é bastante comum nos mitos gregos, onde os deuses descem à Terra para seduzir belas jovens e nelas, conceber seus olimpos. A concepção de Helena de Tróia, por exemplo, é o resultado da sedução de Zeus à jovem Leda. Curiosamente, o poder de Zeus também é representado por um pássaro - um cisne, ao invés da pomba cristã.
Ao contrário da lenda grega, a história cristã obedece à propósitos específicos. Maria é claramente desenhada para ser um modelo virtuoso para o feminino, um exemplo a ser seguido. Não sabemos o quanto de influencia ela efetivamente exerceu sobre o menino Jesus, porque as menções da Bíblia à figura de Maria são pontuais, e escassas. A ideia principal sobre Maria é associá-la à maternidade e ao casamento espiritual, onde o apelo da carne é secundário ou melhor ainda, inexistente. A pena masculina aparece marcada na caracterização de Maria: subserviente, discreta, serena, sublime mesmo. E obviamente, coadjuvante da trajetória do Deus-Pai e do Deus-Filho.
Julia Kristeva afirma em O Feminino e o Sagrado (2001), que a Virgem Maria, por sua aceitação da maternidade, é uma poderosa representação do sagrado feminino, independente do que é facultado a ela na narrativa cristã. Segundo Kristeva, a Virgem simboliza a total consciencia do poder materno, a maternidade aqui servindo como ingerência da vida, do tempo. A mulher vive no limite de uma incongruencia entre o tempo que ela dispõe e administra através da geração da vida, e o espaço a ela reservado no cotidiano. O poder de Maria, a decisão de Maria, a influencia de Maria sobre Cristo, tudo é apontado por Kristeva como indicativo de força através da sabedoria, serenidade, ao invés do controle extático exercido por Eva.
O olhar feminino sobre a Virgem Maria é importante para percebemos, mais uma vez, as lacunas na narrativa bíblica dos personagens femininos. A natureza feminina é deturpada, omitida, ou delimitada segundo os padrões do dogma. Não sabemos até onde Maria determinou a caminhada de Jesus - nos evangelhos do Novo Testamento, o relacionamento de Maria com o filho não é um foco. Não temos uma percepção clara, por exemplo, da infância de Jesus, sobretudo após a morte de José. O evangelho, até por seu objetivo catequizador, se concentra no Jesus adulto, já se conscientizando da sua missão, como também do seu proprio sacrifício.
Como um toque final ao mito da Virgem, o fim de Maria corresponde à sua total sublimação. Depois de sublimar o corpo, Maria ascende ao Pai, e a narrativa de sua morte é ambigua, completamente simbólica. É como se Maria, através da negação de sua individualidade, abandonasse por completo a sua condição humana, e se tornasse apenas espírito. E embora a Bíblia não dimensione a importancia de Maria na trajetoria de Cristo, o fato de tê-Lo concebido confere a ela um lugar de destaque na tradição cristã. A Virgem é a intercessora natural dos pecados do mundo diante do Criador. Por sua condição ambivalente: humana destacada da impurezas do mundo, progenitora do filho de Deus - ela entende o pecado e procura limpá-los da alma dos ímpios. É a figura feminina forte, permanente da qual a religião faz uso para neutralizar o efeito Eva na personalidade feminina. Mas, é também uma representação da força da natureza numa mulher, de um poder que lhes foi concedido e não lhes pode ser tirado. Mais uma vez, apesar do objetivo castrador do mito de Maria, o seu poder permanece no seio materno, e insiste na personalidade feminina pela tolerancia e pela consciencia, ao invés do extase.

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domingo, 20 de dezembro de 2009

MULHERES QUE PECAM N. 7 - Edição Especial p.I



De acordo com o livro bíblico Gênesis, o primeiro ente representante da espécie humana foi o homem; e mais tarde, para que o homem tivesse uma companheira, Deus criou a mulher. Adormeceu o macho e tirou-lhe uma costela, para fazer o corpo feminino. Colocou ambos num jardim auto-suficiente e disse-lhes que comessem de tudo, menos do fruto de uma determinada árvore. Mas Eva, a primeira mulher, desobedece as ordens do Criador, comendo do fruto e dando-o ao seu marido, influenciada pelo animal guardião da árvore. Depois de descobrir a traição de Eva, Deus condena o homem a trabalhar a terra, caçar e pescar para sobreviver; condena a mulher a sangrar todos os meses, a parir dolorosamente os seres de sua espécie, e ser subjugada por seu marido; e condena a espécie do guardião da árvore a rastejar para sempre. Assim o primeiro livro do Velho Testamento descreve o mito de Eva, mulher de Adão e portadora do genoma supostamente maldito da espécie feminina.



Muitas coisas podem se inferir da narrativa inicial da Bíblia: primeiro, ela possui todos os elementos de uma lenda, um folclore transposto para o papel. O elemento místico representado pelo Criador; a demonstração de poder do ser místico, criando os elementos da natureza, flora, fauna e por fim, o ser humano. Os personagens-súditos, criados para viver com fartura, desde que demonstrassem subserviência ao Criador – uma mensagem sublimar e bastante política. E claro, o pecado original, que é também o pecado feminino: é a mulher que aspira ao conhecimento, exercita a curiosidade e desafia o desejo do Criador. Ao comer do fruto, adquire discernimento, perde a inocência e toma consciência do próprio corpo, do sentido das próprias ações e palavras; e faz uso disso, para convencer o seu inocente marido a comer do fruto ele mesmo. A moral da historia é bastante clara: a mulher deve suportar a dor, a submissão como castigo por sua insolência natural. O pecado original, isto é, o afloramento da consciência, do sexo e do desejo é que provoca a necessidade das iniqüidades de gênero, o homem deve isso, a mulher aquilo. Devemos a Eva, primeira mulher, o advento do sofrimento, para remissão de nossas imperfeições.


Eva é o único personagem feminino da Bíblia que é, assumidamente, um mito. É uma criação, para justificar um controle acharcante sobre a moral e a conduta femininas, uma razão mística (por mais contraditório que isso soe) para a opressão do desejo, do pensamento e da curiosidade, associados invariavelmente à mulher. No tempo em que a criação do mundo parecia plenamente justificada por teodicéias, o mito de Eva associa a natureza feminina ao perigo, e o corpo feminino ao pecado original, isto é, o sexo feminino é extático, como também catártico. E a catarse requer distanciamento, indiferença. Neste caso, Eva é o inconsciente coletivo masculino contra a mulher, associando-a inevitavelmente ao erro.


Para resumir, o mito de Eva, na cultura semita, relaciona o pecado à desobediência, e não à falta de um discernimento que, afinal, não era facultado ao casal humano do Jardim do Éden. Toda a simbologia do conhecimento se concentrou na imagem da árvore frondosa, gigante, com frutos enormes e um animal enrolado nos galhos; ou seja, toda a consciência do bem e do mal, prostrada no centro do paraíso, se materializava apenas nos sussurros do animal guardião da árvore. O saber, até aquele momento, não era delegado à raça humana, semelhante, na tradição semita, ao próprio Deus. A idéia de que a mulher possa ter desafiado este estado de coisas apenas por curiosidade, ou por influência externa – e não por valorizar o conhecimento em si, o mistério da criação e a contemplação do divino – atribui ao feminino uma ausência fundamental, um vazio de sentido. Essa representação negativa da conduta feminina que se origina, não gratuitamente, da primeira mulher, fornece ao feminino uma genética perversa, implicando que a mulher é naturalmente perigosa.


Por outro lado, se contestarmos a idéia da falta de sentido na curiosidade feminina, podemos atribuir o pecado original feminino à ambição de se igualar ao divino, podendo os sussurros do animal ser interpretados como o próprio fluxo de consciência da mulher, amadurecido ou despertado precocemente. A associação posterior do animal guardião da árvore à serpente (porque Deus condena o animal a rastejar), mantém a crítica negativa ao feminino, porque aí infere-se que a consciência feminina é ambígua, pervertida, ardilosa, sempre esperando o bote. A serpente também é um animal venenoso, que mata para sobreviver: silenciosa e sutil, ela espera e destrói.


Significativamente, também, o guardião da árvore é frequentemente associado a um animal macho que sussurra no ouvido da mulher. Isso nos oferece uma conotação igualmente negativa ao feminino, que remete a um outro “pecado” – o adultério. Eva foi criada para desposar Adão. Adão era, numa visão pragmática, seu marido, o único macho com o qual ela deveria se relacionar. Se Eva ouve a voz de uma serpente-macho, isso significa que ela não apenas se deixou influenciar, mas também se deixou seduzir. Nunca é demais lembrar que a serpente, ou a cobra, é um animal que frequentemente simboliza o falo, o órgão sexual masculino. Assim, atribui-se ao feminino, além da curiosidade, da ganância e da malícia, também a luxúria, a volúpia – ligada diretamente à voracidade, já que Eva COME do fruto oferecido pela serpente – e uma propensão à deslealdade. O ato de comer, neste sentido, também seria simbólico.


Pode-se perceber, portanto, o mito de Eva como o mito de uma gênese complicada, difícil de explicar e por isso, propositalmente rechaçada, que é a gênese feminina. É possível uma visão positiva do mito de Eva? Curiosamente, sim. Um olhar mais atento pode perceber em Eva uma mulher questionadora, fragmentada, cética, buscando sempre o saber, o desafio e o êxtase – e afinal, por que é que isso é tão ruim? Não podemos esquecer que, antes de qualquer coisa, Eva seria uma criação de DEUS, estruturada a partir da ossatura do HOMEM (de acordo com o mito). Será que isso não confere uma herança de ambigüidade à natureza feminina? Não teria o próprio Criador antecipado isto? È possível que Eva tivesse sido criada exatamente para fazer aflorar a consciência, a maturidade, a coragem, e até mesmo, a diferença entre os sexos? Com o estímulo correto, Eva seria uma líder nata de seu povo. Sabemos, no entanto, que o mito não foi escrito para conferir esse poder a uma mulher. Apenas, na sua ânsia em condenar, acaba nos oferecendo uma oportunidade de esboçar um modelo provocativo e por isso mesmo, digno de admiração da conduta feminina.


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sábado, 19 de dezembro de 2009

MULHERES QUE PECAM N. 7 - Edição Especial



Esta edição, dividida em duas partes (talvez três) será dedicada a três figuras femininas das mais fortes e que postulam grande parte do imaginário criado em torno da personalidade da mulher, sobretudo na cultura ocidental e paternalista. É muito significativo que duas delas possuam o mesmo nome, e que todas compartilhem estigmas de conduta e pensamento. Mas este blog fala de personagens femininas literárias. Então, por que inseri-las? Porque a verdade é que, embora a idéia geral seja de que pelo menos duas delas tenham vivido nos primórdios de nossa civilização – e por “nossa civilização”, entenda-se a civilização ocidental cristã – não podemos afirmar se elas existiram da maneira como são retratadas nos livros da maior obra literária de todos os tempos – a Bíblia Sagrada. Estamos falando, respectiva e cronologicamente de Eva, a primeira mulher; Maria, a Virgem-Mãe; e Maria, a Madalena, discípula controversa de Jesus Cristo.



Primeiro livro a ser impresso na era moderna, é preciso entender que a Bíblia constitui uma série de livros escritos por homens influentes, encarregados de fundar e solidificar os dogmas e preceitos de uma religião monoteísta, capaz de conquistar, pela fé ou pela força, fiéis dos vários credos existentes quando do surgimento do cristianismo. Era preciso viabilizar uma criação estética que servisse como uma base ideológica consistente, como também útil à sociedade que se desenhava, e aos poderes que a representavam. Ora, nenhuma sociedade em formação se estratifica sem um poder conciliador forte, inconteste. A Igreja - católica, protestante, ocidental ou oriental, quaisquer que seja a seita que represente – é e sempre será este a herdeira natural deste tipo de poder. Nenhum governo laico conseguiu unir mais determinado povo do que sua cultura, e sua religião.


Assim, o cristianismo latente precisava de um norte, um guardião de dogmas intricadíssimos, algumas vezes até contraditórios – e ainda assim, capazes de cativar, catequizar o maior número de adeptos. O papel de cada casta, credo, e principalmente, o papel de cada sexo precisava ser definido sob uma ordem mística, agregada em torno de uma figura onipotente, universal. Por isso, o texto bíblico precisava ser sedutor, atrair a maioria e assim, neutralizar a minoria, ou a maioria que não interessasse. Não é preciso dizer que o sexo feminino, neste contexto, constituía uma ameaça ao estabelecimento dessa ordem em formação. O cristianismo, na visão patriarcal incipiente, não precisava de deusas, sacerdotisas, sábias, de personalidades contestadoras. Elas já povoavam grande parte das seitas politeístas que existiam. Era preciso um poder simétrico, igualmente forte.


A mulher já tinha um poder que o homem jamais teria: o da maternidade. A mulher gera a vida, e isso tem uma carga inominável de responsabilidade, poder, como também de erotismo. A mulher atrai o parceiro, intencionalmente: precisa dele para procriar. O ato sexual faz parte do ato de procriação. È o ciclo feminino, o ciclo lunar, o ciclo das marés, que determina as variantes dessa atração que a mulher exerce sobre o corpo masculino. A mulher, portanto, tem uma ligação com a natureza poderosa, mas, sobretudo, perigosa. A mulher é perigosamente útil. Afinal, é preciso perpetuar a espécie e assim, perpetuar também a cultura, os ensinamentos, os dogmas, as regras sociais. Desse modo, a mulher é ao mesmo tempo, um bem e um mal. É uma força que para servir, precisa estar sob absoluto controle. È aí que entra a nossa trindade bíblica feminina. Ou pelo menos, esta é a “leitura” dessa modesta blogueira.


A nossa proposta aqui é considerar que essas mulheres foram construídas, tiveram suas estórias envoltas numa roupagem estética conveniente a determinada corrente cultural. Seriam, neste sentido, personagens. É preciso lembrar que um livro, por mais biográfico que seja, é sempre uma criação, uma seleção de fatos, uma narração de acordo com a mente, a percepção, e o interesse daquele que escreve. Possui, desta forma, um caráter ficcional particular. Aqueles que compuseram a Bíblia não podiam fugir disso. A idéia geral é a de que o “olhar” sobre o qual aquelas estórias foram narradas pertenceria a um ser divino superior, criador de todas as coisas. Mas não é o ser humano a Sua imagem e semelhança? Possuidor, portanto, de um olhar próprio, concedido por essa mesma divindade? Será que é possível abdicar tão completamente de si mesmo? Será que é possível partilhar esse olhar especial de forma que o nosso próprio olhar se esvaeça? Será que é preciso alienar o humano para ascender ao divino? E se fosse? Podemos afirmar que esse era o único espírito do qual aqueles que selecionaram, ou ainda escreveram os livros do Grande Livro, estavam imbuídos?


Responder estas perguntas geraria discussões intermináveis. Não é esse o objetivo. O que queremos é fornecer um ponto de vista, uma leitura mesmo, dessas mulheres conforme elas são descritas na narrativa bíblica. Não é nossa pretensão descobrir a verdade – tudo o que podemos fazer diante de uma crença enraizada, culturalizada, é especular. Além disso, acreditamos em Nietzsche quando ele diz que a verdade é uma construção tão elaborada quanto a mentira. Acreditamos acima de tudo em Deus, isso não é algo que se pode mudar. Apenas o argumento aqui é que o divino é uma coisa, o sagrado é uma coisa, e a religião pode ser outra coisa diferente. É possível pertencer sem abandonar o espírito crítico; como também, só se pode criticar, construtivamente ou não, aquilo no qual se está inserido. Não se pode analisar o que não se conhece. Então, vamos fazer aquilo que já vínhamos fazendo: engendrar a nossa visão, humana, parcial e direcionada para os aspectos em perspectiva neste blog: a mulher, o pecado, a literatura. Sou uma mulher que comeu da árvore do conhecimento, está na minha gênese o discernimento, a aceitação e a revolta. O que nos lembra a personagem do nosso próximo post. Siga-nos.


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quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Anjo...



Meu anjo de garras tesas
Cheio da lua dos amantes
Cercado de essência e desejo
Encantado como o beijo
Que me deste antes...

Tens razão...não há pecado
Pois é tênue a luz dos amados
É a rasgada cumplicidade
Explorando a intimidade,
Os segredos encerrados...

Meu anjo de garras ristes
Que te comam as lobas más
Pois o corpo aquém do luar
É um corpo triste
Ressentido da volúpia,
E da fome infinita de amar.

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sábado, 12 de dezembro de 2009

A Letra Escarlate - citações (2)



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domingo, 6 de dezembro de 2009

ELAS POR ELES N. 4 - William Shakespeare (1)



The Dark Lady Sonnets
William Shakespeare (1524 - 1608)

Sonnet 130

My mistress' eyes are nothing like the sun;
Coral is far more red, than her lips red:
If snow be white, why then her breasts are dun;
If hairs be wires, black wires grow on her head.
I have seen roses damasked, red and white,
But no such roses see I in her cheeks;
And in some perfumes is there more delight
Than in the breath that from my mistress reeks.
I love to hear her speak, yet well I know
That music hath a far more pleasing sound:
I grant I never saw a goddess go,
My mistress, when she walks, treads on the ground:
And yet by heaven, I think my love as rare,
As any she belied with false compare.

Minha tradução:


Soneto 130

Aquela que eu amo não tem o sol no olhar
Também seus lábios não são tão vermelhos
Se a neve é branca, por que seu seio amorenar?
E se pelos são fios, fios pretos são seus cabelos.
Já vi rosas rubras, brancas e adamascadas,
Mas nunca em suas faces vejo tais flores
E algumas essências são mais adocicadas
Aquela que eu amo não exala tais olores.
Eu adoro ouvi-la falar, mas eu sei ao certo
Que há mais prazer no som de uma canção
Eu nunca vi uma deusa passar de perto
Minha amada, quando anda, estremece o chão.
E no entanto meu amor é tão raro, posso jurar
Quanto qualquer falsa musa que a ela se comparar.

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sábado, 5 de dezembro de 2009

A Letra Escarlate - Citações (1)



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sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Anjo...




Versos by Claudinha

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quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Química


Um olhar, um simples olhar
Uma flecha contra os sentidos
inflada do veneno de amar
rasgando todos os tecidos

Um olhar de chuva, olhar de mar
contra qualquer sorriso triste
transbordando o desejo, o ar
lavando o medo, que insiste

É um olhar de luz, de luar
Um olhar fixo entre os dedos
fazendo o sexo penetrar
revelar os velhos segredos

É um olhar típico do olhar
que estanca o sangue, e a sorte
reiventa o vício, para provocar
em todo o libido, a morte.

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MULHERES QUE PECAM N. 6 - HESTER PRYNNE



A obra-prima de Nathaniel Hawthorne, A Letra Escarlate, é como o proprio narrador faz questão de classificar, uma lenda. Uma historia de principios distorcidos, falsos profetas, aparencias, costumes. Uma historia de hipocrisia. Hester Prynne, a heroina romântica de Hawthorne, é uma mulher que se apaixona por um homem de uma comunidade na Nova Inglaterra e concebe uma menina, fruto dessa relação. Acontece que Hester é casada com Roger Prynne - um médico, pesquisador da cultura primitiva, que desaparece por dois anos e retorna justamente no momento em que a esposa está sendo julgada por adultério, tendo a prova do pecado encarnado no espírito indomesticado da criança, chamada Pérola. Roger Prynne percebe o poder que tem nas mãos pois, se revelar-se como o marido desaparecido, todos terão certeza da traição da mulher e sua pena será a execução. Hester, por sua vez, reconhece o marido na multidão e percebe que está em suas mãos. Desejando se aproveitar dessa vantagem, Prynne assume a identidade do médico Roger Chillingworth - para se manter sempre como a espada sobre a cabeça da esposa, e também descobrir quem é o seu amante. A partir daí, a vingança do marido ultrajado, a tortura psicológica, a chantagem contra a honra e reputação de Hester. A sociedade puritana dos primórdios da colonização da America do Norte é o cenário sócio-político desta história que fascina e prende o leitor do inicio ao fim.
Roger Prynne manda a esposa Hester sozinha para a Nova Inglaterra, e parte para suas pesquisas. Após dois anos esperando o marido, Hester já está integrada aos valores e costumes da comunidade que a cerca; todos a consideram viúva, já que o marido nunca dera noticias. Quando se descobre grávida e com o marido desaparecido, Hester é apontada como suposta adultera (já que não se tem certeza se o seu marido está morto) e estabelecida numa cabana afastada na floresta - e aqui encontramos a primeira referência ao aspecto lendário da trama. A mata, o bosque, ou "the woods", dentro da cultura anglo-saxonica, é o local do desconhecido, do proibido, ou do demoníaco. Neste sentido, Hester se ambienta num cenário suspenso da realidade, onde o certo e o errado não estão bem definidos - ou acredita-se não existirem. 
Quando o adultério é revelado, além de não se saber se Hester seria casada ou viúva quando o cometera, não se sabe também a identidade do seu perpetrante, isto é, o pai de Pérola. Na sociedade puritana, a pena para adultério é a morte; mas, uma vez que não se tem certeza do delito, a pena máxima não pode ser imposta. É então que entra em cena o emblema mais relevante da narrativa. Hester é condenada a usar uma espécie de broche com uma Letra "A" Escalarte pendurado no peito. "A" de adúltera; mas, segundo aprendemos com Hawthorne, A de intolerancia, de pobreza de espírito. As principais perguntas de Hawthorne são: qual o verdadeiro pecado? O olhar que enxerga a natureza humana deve estar carregado de essência, ou de aparência? Quais os valores que determinam o que é certo e o que é errado? Essas questões se incrementam ainda mais a partir do momento em que Hawthorne sinaliza quem é o homem que fornicara com Hester Prynne. Não coincidentemente, é Roger Prynne, na pele do médico Roger Chillingworth, que descobre que o amante da adultera Hester é o lider religioso local, Arthur Dimmesdale.
A relação entre Hester e o Reverendo Dimmesdale é uma iconização de papéis invertidos. Dimmesdale é um homem em quem os valores morais estão profundamente enraizados, até por força de sua função evangelizadora, e de sua liderança espiritual e política como representante máximo da Igreja Puritana na região. A sua vaidade é a sua reputação, a sua segurança é a sua respeitabilidade. Hester vem desestabilizar tudo isso - o papel da heroina é quase místico, ela é a tentação, o impasse. Sua altivez e beleza o impressionam; sua inteligência o fascina. Acima de tudo, sua firmeza de principios - que não necessariamente representam os principios da comunidade da qual participa. A integridade de Hester faz dela o ponto forte do casal; Dimmesdale, receoso de perder sua posição junto aos homens e a Deus, não assume nem para si mesmo suas emoções, não considerando puras as suas reações para com uma senhora casada.
Assim, temos o homem fraco e a mulher forte - e entre eles, a consumação do amor proibido no escuro da floresta, no leito de Hester. O pecado de Hester, no entanto, não é tanto o adultério, mas o que a descoberta deste provoca nas estruturas aparentemente estáveis daquela comunidade. Os pilares morais são chacoalhados; os preconceitos velados são expostos à luz do dia. Roger Chillinworth, que passa a clinicar usando o expertise adquirido pelas suas pesquisas, é chamado carinhosamente pelo narrador de "sanguessuga". Ele faz questão de deixar claro para Hester que pode expô-la a qualquer momento, e esta é a representação do poder masculino, patriarcal, que Hawthorne soma à sua lenda. É um poder sanguessuga, desgastante, pulverizador da virtude e do vicio, distorcendo ambos os conceitos. O amor de Hester e Dimmesdale tem uma fragilidade criada pelas limitações dos proprios personagens - ele, incapaz de renunciar à sua função de pastor; ela, incapaz de se libertar da sua funçao de esposa.
A letra escarlate se torna um símbolo, e um dilema, e uma representação da falibilidade humana. Naquela comunidade porém, há um símbolo ainda maior - a falibilidade e a leviandade da mulher. Hester é hostilizada, e sua filha Pérola frequentemente associada à criaturas místicas - o elfo, o demonio, o espirito selvagem. A justiça cega dos homens de bem concede a Hester o beneficio da delação premiada: para se livrar do estigma, ela deve dizer o nome do amante. Mas ela não diz. Sempre fiel a si mesma e ao homem que deve proteger dela, dele mesmo, daquela comunidade intolerante. Permanece calada, andando altiva pela rua com a criança maldita nos braços, portando a Letra Escarlate -  o símbolo da sua coragem, e também um modo de destacá-la das mulheres convertidas ao ostracismo e à submissão.
O sacrifício e a exposição de Hester não devolvem a Dimmesdale a dignidade, tão pouco a coragem. O Reverendo se esconde cada vez mais atrás da moralidade que profanara, e se flagela fisicamente. Só se redime no fim da historia, quando revela para toda a cidade que ele é o pai de Pérola, e morre do coração nos braços de Hester. Mais um elemento da lenda - a morte. O anti-herói deve morrer para se salvar. O sofrimento da heroina é parte de um ensinamento, de uma lição de vida. O coração é o simbolo da essencia, em detrimento da aparencia de normalidade que se tenta a todo custo manter.
Na conclusão da história, o narrador nos informa que Roger Chillinworth/Prynne morrera um ano depois da morte do Reverendo, deixando sua fortuna para Pérola. A riqueza de Hester e Pérola rende as duas uma mudança de tratamento na comunidade - impulsionada por uma mudança de interesses. Mas, mesmo assim, as duas vão embora. E tudo que se sabe delas são histórias, boatos. Pérola se torna quase uma figura etérea, uma fantamasgoria daquela sociedade. Até que um dia, uma idosa Hester retorna à Nova Inglaterra, sozinha.
Do alto de sua vivência, Hester se torna uma conselheira daquela comunidade, uma defensora das oprimidas, rechaçadas, das outras letras do alfabeto escarlate daquela comunidade. E por sua diferenciação, nunca deixou de usar o broche que lhe revelou. Impôs respeito por uma integridade, por uma decência completamente atípica, especial. Ao morrer, leva consigo a letra "A" - a primeira, a única pecadora universal - e por isso mesmo, a lenda.





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sábado, 28 de novembro de 2009

Ode à mulher que peca


Versos by Claudinha Monteiro

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quinta-feira, 26 de novembro de 2009



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quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Vem aí...



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domingo, 22 de novembro de 2009

MULHERES QUE PECAM ATÉ AQUI...


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sábado, 21 de novembro de 2009

FRASE DO DIA



“Eu achava que ia chegar aos 51 anos vendo um mundo mais moderno., mas acontece o oposto. É uma caretice insuportável que impera. Essa proposta do espetáculo é dificílima. Se as pessoas deixarem o teatro pensando sobre esses assuntos, já ganhei. Não estou aqui para dar autógrafos e ser reconhecida nas ruas. Não quero ficar calada sobre o que estou vendo.”

LÚCIA VERÍSSIMO, autora e atriz principal da peça "Usufruto", na qual protagoniza uma cena de sexo no palco.
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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Série ELAS POR ELES N. 3



Annabel Lee
Edgar Allan Poe (1809-1849)

It was many and many a year ago,
In a kingdom by the sea,
That a maiden there lived whom you may know
By the name of Annabel Lee;
And this maiden she lived with no other thought
Than to be loved and to be loved by me.

I was a child and she was a child,
In this kingdom by the sea:
But we loved with a love that was more than love-
I and my Annabel Lee;
With a love that the winged seraphs of heaven
Coveted her and me.

And this was the reason that, long ago,
In this kingdom by the sea,
A wind blew out of a cloud, chilling
My beautiful Annabel Lee;
So that her kinsmen came
And bore her away from me,
To shut her up in a sepulchre
In this kingdom by the sea.

The angels, not half as happy in heaven,
Went envying her and me-
Yes! - that was the reason as all men know
(In this kingdom by the sea)
That the wind came out of the cloud by night,
Chilling and killing my Annabel Lee.

But our love it was stronger by far than the love
Of those who were older than we-
Of many far wiser than we-
And neither the angels in heaven above,
Nor the demons down under the sea,
Can ever dissever my soul from the soul
Of the beautiful Annabel Lee.

For the moon never beams without bringing me dreams
Of the beautiful Annabel Lee;
And the stars never rise but I see the bright eyes
Of the beautiful Annabel Lee.
And so, all the night-tide, my life and my bride,
In her sepulchre there by the sea-
In her tomb by the side of the sea.


Abaixo, a tentativa de tradução desta humilde poeta:

Há muitos, muitos anos atrás
Em um reino ao pé do mar
Uma jovem dama vivia no cais
Annabel Lee, como deves lembrar
E ela queria não muito mais
Do que por mim saber-se amar.

Eu era jovem e também ela,
Neste reino ao pé do mar
Mas nós nos amamos além do amor
Minha Annabel Lee e seu par
Com um amor que alados serafins
A ela e a mim vieram invejar.

E foi por isso que, tempos atrás
Neste reino ao pé do mar
Uma nuvem soprou forte, e congelou
A bela Annabel Lee, meu par
E então seus nobres a levaram
Para longe de mim ela ficar
Para num sepulcro ela se fechar
Neste reino ao pé do mar.

Os anjos, não mais felizes no céu
Continuaram a nos invejar
Sim! - e foi por isso como se sabe
(Neste reino ao pé do mar)
Que um vento soprou o frio da noite
Matou Annabel Lee, meu par.

Mas o nosso amor e o amor
Dos mais velhos, dos mais sábios
Não se pode comparar
E nem os anjos em cima no céu
Nem os demonios no fundo do mar
Podiam a minha alma e a alma
Da bela Annabel Lee, apartar.

Porque a lua não passa sem que me faça
Com a bela Annabel Lee, sonhar.
E o céu não lampeja sem que eu veja
De Annabel Lee o belo olhar.
E assim, toda negra maré
Minha vida e minha mulher
Estão no sepulcro ao pé do mar
No seu luto ao pé do mar.
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sexta-feira, 13 de novembro de 2009

SETE PECADOS




Te amar...
Com raiva
Com fome
Com a dor infinita
do desejo
Adorando a ti
como ao espelho
E te invadir
sem pressa
sem destino
Em cada minuto
um olhar instigado
de malícia
de querer mais
e conseguir
A cada minuto
Senhora absoluta de ti
E de mim.

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quinta-feira, 12 de novembro de 2009

FRASE DO DIA

"Amar é saborear nos braços de um ente querido a porção de céu que Deus depôs na carne."
Victor Hugo



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segunda-feira, 2 de novembro de 2009

MULHERES QUE PECAM N. 5 - LUCIOLA

 
Uma estratégia narrativa muito presente em Lucíola (1862), como em outras obras de José de Alencar, é a tendência a convergir palavra e imagem, é fazer o livro passar na fantasia do leitor como um filme, ou uma seqüência de enormes paisagens. Não é uma estratégia gratuita. O uso contínuo de cores e formas na descrição dos eventos em suas tramas parece ter o intuito de antecipar uma ligação inconsciente com o imaginário do leitor, facilitando a criação de um reflexo, uma relação verossímil com a sua própria realidade. Os ‘quadros’ pintados por Alencar revelam uma palavra ao mesmo tempo pitoresca e dúbia, armazenando nos personagens diversos modos de agir e/ou conduzir. Cabe à Lúcia, expressão máxima de ambigüidade poética do romance, a missão de representar o claro e o escuro, a máscara do rebaixamento social escondendo a generosidade, o sentimento, a elevação de espírito que personagens coadjuvantes não parecem ser capazes de exprimir. Cabe à Lúcia de Alencar o privilégio de prostituir a si mesma, e construir em cima de referencias de um outro mundo o seu próprio, para fazer valer a sua vontade, perfazendo uma imagem tão inesquecível que terá o poder de suscitar as mais belas palavras e o mais sublime dos sentimentos.


A história, ambientada no Rio de Janeiro de 1861, se desenha a partir das lembranças de Paulo, personagem-narrador-amante, sobre sua história de amor com uma “mulher bonita” de nome Lúcia, ocorrida seis anos antes. A memória neste caso torna-se o recurso fundamental do artista, ou mesmo do contador de histórias, ao proporcionar a construção de um panorama de sentimentos, verdades e observações. Nesta junção de imagens e palavras acompanha-se o olhar crítico, sincero, muitas vezes furtivo e acima de tudo, colorido do personagem masculino central. Paulo vê a cidade, vê a paisagem, vê a mulher. A mulher, aqui, se resume à figura daquela cuja essência o intriga desde o início.



O olhar de Paulo, a princípio, é de encantamento, mas apenas porque ele desconhece o modo de vida daquela que, até então, assumia ares de musa, cuja beleza se põe a mercê das impressões do artista. Entretanto, a partir do momento que a atividade profissional de Lúcia é revelada, um outro olhar parece impregnar as suas opiniões. O juízo que Paulo faz de Lúcia passa não mais pela concepção do Belo, mas por um simples aspecto de beleza física. Afinal, a uma cortesã deve-se apenas desejo, talvez certo tempo, mas não admiração. O código de conduta social da época parece influir no comportamento do personagem-narrador, que tenta cercar seus quadros com uma moldura típica, uma visão pré-concebida de Lúcia, ou a visão que lhe cabe por sua condição, por assim dizer, inferior. Em outras palavras, Lúcia é um aleijo social, uma pata de gazela, um mal necessário. Paulo procura ver em Lúcia a sombra, o escuro social que ela devia representar.


Entretanto, Lucia permanece um enigma para o narrador. Uma cortesã não pode pressupor o belo e o grotesco ao mesmo tempo. Não pode ser poesia, e ao mesmo tempo significar nada. Ao contrário, em qualquer sistema social a mulher que prostitui o corpo representaria o auge da degradação, uma falha de caráter. Na sociedade brasileira em formação do séc.XIX, porém, a cortesã é também uma peça do tabuleiro, uma presença constante em todo escol que se procura imitar. A imagem que ela tem de si mesma e, sobretudo, sua imagem social depende de uma aquarela repetida, imutável. O narrador é, antes de tudo, um ser sociável e como tal, procura dar a seu universo narrativo uma idéia resolvida muito antes dele próprio, passada de geração em geração.



Mas Lucíola, o pirilampo, persiste. É um “lampiro noturno que brilha de uma luz tão viva no seio da treva e à beira dos charcos” 2. E a luz volta e meia aparece nas perspectivas de Paulo a respeito de Lúcia. A luz de sua beleza expõe simultaneamente a sombra que é sua existência em sociedade. Lucíola é um fenômeno que carrega dentro de si uma espécie de dissociação de personalidades completamente antagônicas. Lucíola brilha, invariavelmente, no escuro. Não há como vê-la sem ao seu reflexo. É interessante notar a seleção de palavras que Alencar atribui à personagem, sempre aludindo a sua beleza como um bálsamo, uma expressão de pureza, como se olhar do artista – neste caso, o olhar provinciano de Paulo – pudesse perscrutar além do invólucro imposto pela sociedade pseudo-ocidental da época. A narração de Paulo constrói uma Lúcia casta, amoral. Sua carne e seu espírito são divindades distintas.



A profanação do belo, na concepção do romance, se dá através do papel social que Lúcia se vê obrigada a desempenhar. Mas o corpo violado pela necessidade não poderia ser de todo perfeito. Alencar produz para Lúcia uma falha no coração. Uma palpitação que a deixa pálida, sem vida, cada vez que ela se rebaixa à sua posição na côrte. Um sofrimento que vem de dentro, como a purgação de um pecado, o de apenas parecer. Esse despedaçamento da carne fica evidente na belíssima passagem em que Lúcia interpreta, para o deleite sarcástico do personagem Sá e seus convidados, as pinturas das bacantes na parede, transformando-as num quadro vivo (p. 39). Na descrição da performance de Lúcia, Alencar se esmera em fundir movimentos bruscos, ousados com a leveza e a susceptibilidade femininas. Verbos como saltar, agitar, retrair, requebrar são naturalmente mesclados com os adjetivos flébil, soluçante, trêmula. A imitação lasciva de Lúcia se mistura com sua caracterização reportando às virgens gregas. Também fica bastante clara a questão da imitação, da referência a um modelo com o qual se pode apenas parecer, mas nunca ser. O comportamento mimético de Lúcia é quase uma extensão da hipocrisia dos convidados, que aplaudem entusiasmadamente a humilhação de um outro. Talvez por isso o aparente “êxtase amoroso” de Lúcia é também um suspiro, um soluço, um corpo estremecido. A poesia de Alencar nos remete a uma dubiedade de sensações que podem ser tanto arrebatamento quanto agonia.



Ao projetar a luz de seu olhar sobre Lúcia, Paulo ressalta de imediato que claros e escuros seriam inevitáveis. O que parece implícito na narrativa de Paulo é que os escuros de Lúcia parecem estreitamente ligados às suas relações em sociedade. O isolamento da cortesã, a sua pretensa mesquinhez, a sua conduta exageradamente concupiscente diante da côrte que a despreza e que ela despreza de volta, tudo é uma cortina de fumaça para a alma reluzente que apenas o narrador é capaz de observar. Na seqüência da atuação de Lúcia na festa do Sá, Paulo é o único que percebe as suas “contrações nervosas”, os seus “soluços de angústia”. É como se Lúcia não estivesse partindo para o gozo, mas para o sacrifício. Tudo permanece duplo, como uma batalha de egos. De um lado, a prostituta que sofre; do outro a sociedade que a oprime. As relações pessoais e sociais se confundem e também se enfrentam. E o narrador se encontra curiosamente no vértice de ambas. Neste contexto, como configurar o início de um caminho, até uma provável redenção dos personagens?



A solução seria, portanto, o romance. Paulo se apaixona por Lúcia. Ou pela musa de suas pinturas de palavras. Ou pela alma dilacerada da bacante. Não pode ser o acaso. Alencar constrói uma mulher fragmentada, sensível, dividida em duas, e um narrador que é também um apaixonado, igualmente fragmentado, mas ainda assim um homem, cuja virilidade precisa ser ambientalmente defendida. Um homem cujo olhar reflete exatamente o contexto em que vive, o esconde-esconde que é a base da nossa moderna brasilidade. Alencar constrói em Lucíola uma protagonista às voltas com os vícios de uma côrte habitualmente hipócrita, tendo que sobreviver a uma casta privilegiada que tenta violar seu espírito com a mesma arma que violaram seu corpo – o subjugo social. É interessante notar que não há nada de gratuito na escolha do nome Lúcia para a prostituta de Alencar. Assim como Lucíola é um pirilampo que brilha no escuro, Lúcia, não coincidentemente, é a palavra em latim para luz. Mas Lúcia existe, ironicamente, quando não é Lúcia. O nome da personagem urbana foi emprestado, como depois saberemos, de uma mulher cuja carne apodrece a sete palmos. A partir daí o nome da luz adquire uma conotação mais sombria. A Lúcia que vive é uma personagem, alguém que considera sua própria carne apodrecida e impura, ainda que servindo de casca para uma alma iluminada nos olhos de poucos, ou apenas de um – Paulo (do latim pouco, pequeno), o narrador apaixonado.



O olhar do amor perfaz a conexão entre sensação e sentimento, encarnados ao extremo na personagem-título. Paulo impressiona-se com Lúcia antes de conhecê-la. Depois que a conhece, gosta, desgosta, surpreende-se positiva e negativamente, até se render apaixonado por ela. As sensações se multiplicam, oscilam, e norteiam os sentimentos do narrador. E a pintura de sua amada é o resultado de seus deslumbramentos. Alencar ocupa com maestria os espaços da história com distribuições do pitoresco, com referências de cores, manchas, claros e escuros. A purgação no amor de Paulo reside numa certa vontade própria de sua amada, ou de sua capacidade de se despir do tipo que a oprime, e se mostrar inteira, pura, apenas para ele. É dessa purgação que (re)nasce Maria da Glória, a luz por trás da sombra, que só Paulo enxerga. Maria da Glória, alter-ego da prostituta Lúcia, é uma mulher sem máscaras nem metáforas. Não se pinta, usa roupas simples, é avessa ao movimento e dedicada a casa e à irmã mais nova, Ana, cujo bem-estar é a razão de todo seu sacrifício. A irmã Ana é a personificação da pureza, da graciosidade que não lhe foi permitida (Ana, em hebraico, significa “cheia de graça”).



Esse arremate romântico é que dá à musa fragmentada de Alencar, possuída de arquétipos sócio-culturais e do veneno da luxúria, ares de heroína. E é aí que voltamos, inevitavelmente, à Maria da Glória. A ‘generosidade’ de Paulo e a purificação de Lúcia são os instrumentos da transformação de Lúcia em Maria da Glória ou, se assim podemos dizer, do seu renascimento. A sugestão por trás de todo o romance, veiculada através do olhar despudorado de Paulo, é que Maria da Glória sempre esteve no âmago do ser conturbado que era sua “casca”, a cortesã Lúcia. Maria da Glória era alguém cuja existência não era permitida na realidade social que a cortesã precisava assumir. A “larva” sob o casulo, o claro do pirilampo, só podia ser visto pela pureza de espírito do personagem narrador.



O surgimento do que se sugere ser a verdadeira alma da protagonista parece identificar a musa trágica, ou antes, a verdadeira heroína, aquela cujo extremo sacrifício individual proporciona um bálsamo aqueles que para ela são caros. Mas Lúcia praticava o sacrifício do corpo, era lasciva e socialmente execrável. Era preciso, portanto, um motivo forte, inconteste, para explicar seu aparente desvio moral. É então que Alencar cria pra ela, nos últimos capítulos do romance, uma razão capaz de desvanecer quaisquer sentimentos de repulsa pela personagem principal: a doença da família, a saúde do pai, da irmã, e a inocência perdida para salvar suas vidas.



A conduta imoral de Maria da Glória se transforma então, num suplício viabilizado tanto pela sua ingenuidade quanto pela má fé do homem urbano. Para preservar a si mesma e à sua família, constrói uma nova identidade, cujo nome toma emprestado de uma colega de infortúnio, morta antes dela. A escuridão da casca contrasta diretamente com seu ‘nome de guerra’, Lúcia, luz. Da mesma forma, a personalidade de Maria de Glória conflita constantemente com a condição de sua persona, ou mais propriamente, sua sombra. Ainda assim, Alencar atribui à cortesã uma dignidade aparentemente incomum. Lúcia vende tudo quanto ganha com seus serviços de ‘mulher bonita’, enquanto recebe com alegria os presentes modestos de Paulo, simbolicamente representados nos brincos de azeviche (cap. IX). Além disso, ofende-se com a desconfiança de Paulo com relação ao seu comportamento, e enfraquece fisicamente quando precisa cumprir o seu ‘dever’ social; tudo acaba contribuindo para que o jogo de claro e escuro que vá se desenhando gradativamente em torno da heroína.



A reconstrução de Maria da Glória passa também por um último traço – a renúncia. Lúcia/Maria da Glória abdica de tudo que lucrou com a luxúria e decide viver simploriamente, levando como reserva financeira apenas o que Paulo lhe dera. A valorização do amor, aliada a total espoliação do desejo sexual, a esta altura praticamente abolido da sua relação com Paulo, provoca uma empatia quase que obrigatória. É improvável que um leitor não se solidarize com o martírio individual da personagem-título.



Alencar, tão irônica quanto brilhantemente, faz de sua Lúcia um baluarte dos principais valores da sociedade pseudo-burguesa do Brasil do séc. XIX. O aparecimento de Maria da Glória revela uma personagem casta de coração, fiel ao seu amor, resignada e simples, renunciando ao desejo para se sentir pura através da afeição do narrador. Quando engravida de Paulo, o destino de Lúcia não poderia ser outro senão a morte. Afinal, é o filho de Lúcia, concebido em pecado, e não de Maria da Glória. Antes, porém, Alencar redime mais uma vez a sua protagonista, ao fazê-la preferir a morte ao aborto da criança; mesmo após seguir os conselhos médicos, o corpo de Maria da Glória não expulsa o feto e ela morre comungando com Paulo o amor celestial, numa atitude representativa de um casamento, já que este se recusa a ser mais do que um pai para sua irmã Ana. Em um único quadro, e num mesmo personagem, Alencar pinta os aleijos e crenças morais do ambiente social que se precisava identificar com um cenário exuberante, pictórico, ou o que hoje chamaríamos de tipicamente brasileiro.



Em Lucíola, a representação semântico-pictórica de Alencar é magnífica, com cada palavra adquirindo uma forma, uma cor e um sentido. Sob a ótica individual, há o que se considerar nas identidades fragmentadas tanto da personagem-título, quanto do personagem-narrador. Os claros e escuros de suas personalidades coabitam com os claros e escuros do cenário sócio-político, sendo direta e indiretamente manipulados por esse cenário. O final moralista – absolutamente proposital, em minha opinião, contribui para a crítica de Alencar ao caráter não-original da identidade brasileira. A última linha de Paulo em Lucíola expressa seu temor de não ter conseguido pôr em palavras todas as sensações pelas quais passou ao lado de sua musa inspiradora. Com um criador como Alencar, esta preocupação não apenas não se justifica como prova ser justamente o contrário. Após mais de cem páginas de uma pintura intensa e livre do desbotamento do tempo, é bastante justo dizer que nenhuma sensação, certeza e, principalmente, nenhuma imagem deixou de ser traçada no imaginário do leitor daquela época, ou das outras épocas para as quais a herança alencariana continua a existir.



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sábado, 31 de outubro de 2009

Série ELAS POR ELES (Episódio II)

Talvez sonhasse, quando a vi. Mas via
 Que, aos raios do luar iluminada,
Entre as estrelas trêmulas subia
Uma infinita e cintilante escada.
                                                                                                            
E eu olhava-a de baixo, olhava-a... Em cada
Degrau, que o ouro mais límpido vestia,
Mudo e sereno, um anjo a harpa dourada,
Ressoante de súplicas, feria...

Tu, mãe sagrada! Vós também, formosas
Ilusões! sonhos meus! íeis por ela
Como um bando de sombras vaporosas.

E, ó meu amor! eu te buscava, quando
Vi que no alto surgias, calma e bela,
O olhar celeste para o meu baixando...

Via Láctea



 Olavo Bilac
(1865 - 1918)


Deixa que o olhar do mundo enfim devasse
Teu grande amor que é teu maior segredo!
Que terias perdido, se, mais cedo,
Todo o afeto que sentes se mostrasse?

Basta de enganos! Mostra-me sem medo
Aos homens, afrontando-os face a face:
Quero que os homens todos, quando eu passe,
Invejosos, apontem-me com o dedo.

Olha: não posso mais! Ando tão cheio
Deste amor, que minh’alma se consome
De te exaltar aos olhos do universo...

Ouço em tudo teu nome, em tudo o leio:
E, fatigado de calar teu nome,
Quase o revelo no final de um verso.


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quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Espectro


Minha alma torpe, torta, triste
Esfomeada, carente demais
Vive armada, dedo em riste
Malcriada e incapaz

Minha alma manca, sem beleza
Animal sem nome nem olhar
Minha alma acuada gagueja
Tira tudo do lugar

Minha alma atropelada
Prepotente, singular
Incolor e acorrentada
Nunca sai de onde está
Está sempre apaixonada
Como estrela incandescente,
                                                        Impotente e dependente
                                                        Da luz do luar.


By Claudinha

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quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Mulheres que Pecam N. 4 - Não Perca!


"Lúcia saltava sobre a mesa. Arrancando uma palma de um dos jarros de flores, trançou-a nos cabelos, coroando-se de verbena, como as virgens gregas. Depois agitando as longas tranças negras, que se enroscaram quais serpes vivas, retraiu os rins num requebro sensual, arqueou os braços e começou a imitar uma a uma as lascivas pinturas; mas a imitar com a posição, com o gesto, com a sensação do gozo voluptuoso que lhe estremecia o corpo, com a voz que expirava no flébil suspiro e no beijo soluçante, com a palavra trêmula que borbulhava dos lábios no delíquio do êxtase amoroso."

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sábado, 17 de outubro de 2009

Lucíola

Afasto por um momento
A minha alma do corpo
cansado, em tormento
carente de um esforço
O que procuro é luz. 
E sangue. E natureza.
O que procuro é a essência
Num rabo de estrela
Que nos meus olhos espelha
a reminiscência...

                                                                     O que encontro é um pormenor
                                                                     na pele fria, um recomeço
                                                                    Um verso simples
                                                                    Que eu sei de cor
                                                                    Uma palavra de amor
                                                                    Que eu desconheço

                                                                    E quando eu cismo
                                                                    Afasto meu corpo
                                                                    E minha alma espalha no vento
                                                                    Um brilho de sonho
                                                                    Um sentimento
                                                                    Na beira do abismo
                                                                    Um alento.


Por Claudinha M.

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