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PECADORES CONFESSOS...

sábado, 30 de junho de 2012

terça-feira, 12 de junho de 2012

SEGREDO





Se eu fosse falar de amor
Não seria assim do nada
Nem teria poucas palavras
pouco caso, pouca cor
Amor é amor
e sendo assim
sai de várias partes de mim
invade o instinto e o pavor

Se eu fosse falar de amor
E então te olhar
numa única imagem, o infinito
Se eu fosse bordar
um desejo, um mito
Nas tuas mãos veria o mar
diante de mim, distante de mim
aflito.

Amor é amor...
se eu fosse falar
se não fosse a tua presença
a me calar
de forma nua, intensa
se não fosse a diferença
se não fosse um encanto
quebrar...



Inspirado numa história que venho acompanhando numa série de TV. Qualquer semelhança com pessoas/fatos do cotidiano é mera coincidencia. 

Feliz Dia dos Namorados! :D

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segunda-feira, 11 de junho de 2012

Madalena




Tinha todos os defeitos. Insubordinada, voluntariosa, metida. Tinha aquela teima rudimentar. Gostava demais de rir, e quando podia, falava muito, nem que fosse com as paredes.
Não conhecia medida de nada - pensamento, sentimento, tudo ia longe, tudo parecia a eterna felicidade ou um contínuo sofrimento. Madalena era assim, rainha de si, sua própria bomba-relógio.
Passava na rua um dia, e um idoso cabisbaixo pediu uma esmola. Solícita, Madalena deu todos os seus trocados. Ao agradece-la, o homem disse:
"Vamos fazer uma aposta?"
A pergunta pegou Madalena de surpresa. "Como assim?"
"Uma aposta. E antes que Madalena respondesse, continuou: "E um aviso: nem todo caminho é curto."
"Como assim?" Madalena perguntou. "Voce não sabe aonde quero chegar"
"Nem você", e o velho abriu um sorriso sem dentes. "Paciência, moça. Olhe para o lado, respire. Voce passa pela vida como um furacão. E quando olha para trás, nada mais resta de você"
"Você é bem abusado. Quem voce pensa que..."

"Quer apostar ou não?"
Nada instigava Madalena como um desafio. Seu olhos cerravam, sua boca secava, sua pele de cobre abrasava e tudo ardia por dentro. As palavras saíram de sua boca um segundo antes do resto do mundo.
"Tudo bem. Qual o lance?"
"Aposto que nas outras tres vezes que voce me encontrar, vai fingir que não me conhece"
"Tá me chamando de esnobe?"
Desta vez o velho apenas sorriu, sem mostrar os dentes que não tinha.
"E como sabe que vamos nos encontrar mais vezes?"
"Eu ando devagar", disse o velho se afastando, sem olhar para trás.
"Ei, e se eu não te ignorar", Madalena gritou, "o que eu ganho?"
"Carater, respeito", o velho respondeu, "tempo..."
Madalena fez o de sempre: riu de gargalhar, retomou seu caminho, deu dois passos, mas achou estranho demais apostar com um homem que ela nem conhecia. Olhou para tras para desfazer o trato, mas era tarde.
O velho desaparecera tão rápido quanto a poeira que ela levantava dos sapatos.

***
Madalena seguiu em frente, para mais e menos, para coisas grandes e pequenas. Teve uma vida cheia, e um vazio que nunca conseguira preencher. Uma fome inveterada de tudo o mais que parecia não ter vivido. Mas na verdade, viveu muito. Teve amores e perdas, como tinha de ser. Tinha o mesmo riso alto, o mesmo fogo nas ventas, mas o andar... ia ficando mais lento, mas no compasso da sua existência. Podia até ver melhor as pessoas. Podia dizer, com orgulho ou desdém, que tinha ajudado muita gente.

Madalena era a mesma de sempre. Talvez, mais livre. Mais com a sensação do dever cumprido. Ou quase...

Durante os mais de 90 anos de sua existencia, todas as suas andanças, todas as pessoas que conhecera, amara e compartilhara a vida...todas estavam lá, em volta dela, quando seus pés não aguentavam mais o peso do corpo. Faltava apenas uma pessoa.

Aquele senhor de fala mansa e andar cadenciado que apostou uma vida inteira com ela nunca mais cruzou seu caminho...ou cruzou?

Depois do tanto por que passou, depois de estar ali, cercada de tudo e de todos, já não tinha tanta certeza. "Carater, respeito, tempo..." ele dissera.

É, bem...

No fim, fechando o olhos, abriu um baita sorriso de surpresa e alívio. "Te peguei", foram as últimas palavras. Aquela aposta, com toda certeza, ela ganhou de lavada.

por Claudinha Monteiro


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sábado, 9 de junho de 2012

Palavras do Rei...




"O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem-caráter, nem dos sem-ética.
O que mais preocupa é o silêncio dos bons
"

Martin Luther King (1929-1968), ativista político americano

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quinta-feira, 7 de junho de 2012

A Garota com o Dragão no corpo: a guerra dos sexos continua...


Banner da versão sueca do romance para o cinema

Da metade para o final do romance encontramos o clímax da representação dos Homens que odeiam as mulheres, quando Lisbeth e Mikael conectam o desaparecimento de Harriet Vanger a uma série de assassinatos bárbaros, em que mulheres judias eram o alvo. Considerando o conhecido anti-semitismo dos Vanger, Mikael e Lisbeth suspeitam que Harriet poderia ter descoberto um assassino serial dentro de sua própria família - seu sumiço então seria uma queima de arquivo. 

É determinante na narrativa a distorção e/ou desaparecimento da figura materna. Descobrimos através de Mikael que a mãe de Harriet era alcoólatra e incapaz de cuidar dos filhos (Harriet e o irmão mais velho, Martin). E Lisbeth nunca menciona o que acontecera à sua mãe, tudo que a define vem da sua problemática relação com o pai, ou com aqueles que o substituíram. Da mesma forma, as figuras paternas que contrariam esta cadeia de poder patriarcal são punidas, de alguma maneira: Henrik Vanger sofre um derrame e fica debilitado fisicamente; o mesmo acontece com o unico guardião a quem Lisbeth se afeiçoou; e como resultado de suas investigações, Mikael acaba caindo nas mãos do assassino - que é, de fato, um Vanger.

A natureza violenta dos crimes e a sua motivação denotam um nível especial de ódio contra o poder feminino. Todas as mortes foram "inspiradas" em passagens bíblicas do Antigo Testamento - e todas dizem respeito ao pecado comportamental da mulher. A representação do pecado feminino é icônica - a prostituta, a mentirosa, a feiticeira, a prevaricadora. Todas as que caem sob o olhar inquisidor do assassino são espancadas, estupradas, torturadas com algum objeto relacionado ao seu "pecado". É importante ressaltar o forte apelo sexual na punição imposta às "pecadoras". O estupro é um instrumento de retomada de poder constante no livro - uma forma cruel de subjugar a representação feminina. Na contramão desse ódio incandescente, está a sexualidade da própria Lisbeth, que é bissexual; como também a sua capacidade de retribuir a violência sexual contra ela. Mais tarde descobriremos que a desaparecida Harriet possuía o mesmo senso punitivo contra a hostilidade que a cercava; que Harriet resolveu lidar com o pai bêbado e abusivo, basicamente, da mesma maneira que Lisbeth - só que em vez de queimá-lo vivo (como Lisbeth fizera com seu pai), Harriet provocou o seu afogamento. Fogo e Água. O objeto e seu duplo. Lisbeth e Harriet são iguais no conteúdo, embora sejam diferentes na forma.

Na conclusão da narrativa, várias reviravoltas. O assassino, na verdade, são dois - uma herança macabra no clã dos Vangers. O primeiro fora responsável pelos crimes até um ano antes de Harriet desaparecer - depois disso, assume o outro, mais refinado e discreto, herdeiro de sangue e de maldade. A descoberta de sua identidade precipita o sequestro e a tortura de Mikael. Ironicamente no que diz respeito à temática do romance, é Lisbeth quem salva a vida de Mikael, persegue e provoca a morte do assassino. Mas a desconstrução do espírito chauvinista não pára por aí.

Após a morte do assassino, Mikael e Lisbeth descobrem que Henrik jamais deixou de receber seu presente de aniversário porque Harriet, na verdade, estava viva. Portanto, ela mesma mandava o presente. Harriet sobrevivera ao conjunto de pressões e abusos dos homens de sua família fugindo de casa com a ajuda de sua prima Anita, que também lhe emprestou seu nome. Harriet construiu uma nova identidade, uma vida independente, tornou-se dona de si, e nunca foi implicada no afogamento do pai, tido como acidental. Mais uma vez a história de Harriet funciona como um anti-reflexo à história de Lisbeth, já que a protagonista não apenas foi acusada de matar o pai, como também foi considerada insana, incapaz, tendo sua vida controlada por terceiros.

Por fim, era de se esperar a tensão sexual entre Mikael e Lisbeth, o consequente envolvimento no decorrer da investigação, como também o rompimento prematuro depois que Mikael consegue recuperar a vida e a reputação que tinha antes. Mais uma vez, a ironia - é Lisbeth quem salva o repórter, encontrando provas que o permitem reverter o processo judicial contra ele, comprovando a conduta criminosa do autor do processo. Assim, o frágil romantismo de Lisbeth sofre um duro golpe, mas ela não se deixa abater. Apenas monta em sua moto, veste sua armadura de couro e vai embora, em busca de novos desafios - que espero encontrar no segundo livro da trilogia - The Girl Who Played with Fire. Mal posso esperar.


por Claudinha Monteiro.

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terça-feira, 5 de junho de 2012

SO CRUEL... SO TRUE - Mais home truths...




"Ninguém pode te fazer sentir inferior sem a tua permissão."

- Eleanor Roosevelt (1884-1962), ativista política e primeira-dama dos EUA (1933-1945)


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domingo, 3 de junho de 2012

A Garota com o Dragão no corpo: a guerra dos sexos no romance de Stieg Larson

Banner da versão americana do romance para o cinema (2011)


 
A trama de The Girl with the Dragon Tattoo (A Garota com a Tatuagem de Dragão), titulo em inglês do romance de 2005 escrito pelo sueco Stieg Larson, gira em torno de uma mulher com um passado marcante e triste, que a transforma em um espírito impulsivo, com uma língua ferina e um parco auto-controle, na visão de seus tutores. Perdida num mar de referencias à sociedade patriarcal, essa mulher estabelece uma relação de amor, ódio e poder com o mundo masculino que parece cerceá-la. Neste sentido, o título original do livro, Män Som Hatar Kvinnor (Os homens que odeiam as mulheres) cai como uma luva.

Lisbeth Salander é uma mulher de 24 anos que vive sob a tutela do Estado, devido a uma suposta propensão à violência (Lis fora acusada de assassinar o pai biológico). A personagem é descrita como franzina, andrógina, que não aparenta a maioridade. O corpo frágil e sem grandes atrativos esconde, porém, uma personalidade arredia, questionadora, e uma inteligência acima da média - qualidades estas que, aliás, lhe rendem o emprego e a reputação de investigadora particular. No entanto, esse poder incipiente da protagonista parece chocar-se a todo momento com os personages masculinos da trama - ainda que estes personagens não necessariamente antagonizem com ela. O enredo é cercado de figuras paternas que regem a vida de Lisbeth - seu guardião financeiro, seu patrão e mais tarde, seu parceiro de trabalho tem participações importantes na sua trajetória.

A ideia de aprisionamento parece estar muito presente na narrativa, sobretudo para os personagens femininos em geral. Lisbeth é o paradigma dessa ídeia, já que tem toda a sua vida controlada por homens - e a personagem busca libertar-se desse constante monitoramento. No caminho para liberdade, Lisbeth acaba pagando na mesma moeda a violencia praticada contra ela, tanto através da depreciação moral - na alegação de sua incapacidade mental - como também o abuso físico, quando um de seus guardiaes  financeiros começa a exigir favores sexuais. É então que percebemos que a natureza violenta de Lisbeth é uma questão de perspectiva - o que o senso comum masculino entende como "ataque", o senso feminino entenderia como "defesa".  Lisbeth vinga-se do guardião estuprador e ainda reverte o seu jogo de poder contra ele, forçando-o a considerá-la capaz de gerir seu proprio dinheiro.

Da mesma forma, a percepção super-desenvolvida da protagonista cria uma relação de dependência com o patrão, Dragan Armanskij, que passa a confiar quase que exclusivamente a ela as investigações mais complexas. O afeto platônico entre funcionária e patrão denota uma das poucas relações saudáveis do livro mas, ainda assim, só  acontece depois que Armanskij aceita que Lisbeth seja independente na forma de fazer  o seu trabalho. De qualquer modo, é numa de suas investigações que Lisbeth conhece Mikael, um jornalista farejador de escândalos encrencado com a justiça, que acaba contratado por um milionário moribundo para supostamente escrever as memórias da familía - mas, na verdade, para investigar o misterioso desaparecimento de uma de suas sobrinhas, 40 anos antes.

O milionário em questão, Henrik Vanger, é o esterótipo do poder patriarcal. Dono de um império industrial, Vanger tem certeza que Harriet, a sobrinha desaparecida, fora assassinada por um membro da família. O interessante aqui é que apesar do extremo apelo chauvinista que cerca o clã Vanger, Henrik pretendia fazer de Harriet - uma menina extremamente perceptiva e inteligente - a herdeira de todo império, subvertendo as convenções machistas. Antes disso, porém, Harriet desaparece sem deixar rastros durante uma festa familiar. E desde então, todos os anos na data de seu aniversário, Henrik recebe uma flor emoldurada de presente, que era o mesmo presente que Harriet lhe dava até sumir.

É importante atentar para a simbologia que suscita a imagem da flor (normalmente associada à essencia feminina) transformada em um quadro, sufocada atrás de vidros e molduras. É uma metáfora que serve perfeitamente à trama do livro, que apresenta personagens femininas de épocas e histórias familiares diferentes sofrendo o mesmo tipo de castração individual, a mesma deturpação de valores. Mikael descobre, por exemplo, que Harriet era vista pela familia como introspectiva, emocionalmente instável e por vezes até promíscua. Mas a relação dela com o tio Henrik era de cumplicidade e entendimento, sendo Henrik o único membro masculino da família em que Harriet efetivamente confiava. Neste sentido, Harriet funciona como um interessante duplo para Lisbeth, ambas depreciadas e subjugadas. E mais adiante na narrativa, quando o misterio do desaparecimento de Harriet é revelado, encontramos semelhanças ainda mais profundas entre as duas personagens.

Mikael Blomkvist, o jornalista investigativo, também habita o universo de homens da trama que possuem relacionamentos complicados com o sexo oposto. Co-fundador de uma revista, mantém um relacionamento sexual com a sócia, que acabou por destruir seu casamento. Ateu, entra em conflito pessoal com a filha quando esta decide participar de um grupo bíblico. Na verdade, a vida pessoal de Mikael gira em torno de mulheres independentes, instintivas, voluntariosas. Lisbeth Salander, a investigadora punk que esmiuçara sua vida para os Vanger, é mais uma dessa lista. De tão impressionado com os seus recursos (nem todos legais), Mikael convida Lisbeth para ajudá-lo a descobrir o paradeiro de Harriet Vanger - e de fato, são as descobertas de Lisbeth que dão o completo sentido da expressão-título "Os homens que odeiam as mulheres".

(continua...)




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