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PECADORES CONFESSOS...

sábado, 9 de outubro de 2010

As pecadoras de Jorge Amado (II) - O imperio dos sentidos de Gabriela Cravo e Canela

O romance de Jorge Amado, traduzido para o inglês

Gabriela, perfume de cravo e cor de canela. A imagem da tropicalidade e da brejeirice – como também da libertação do desejo primitivo, do sexo enquanto exercício do corpo. No romance Gabriela Cravo e Canela (1958), Jorge Amado nos apresenta um mulher de espírito livre, sem amarras morais nem pertubações de consciência. Uma cria da terra, trabalhadora, inocente, interesseira, sedutora, voluntariosa, humana. A história de Gabriela é alegre, cantada com o sotaque baiano, mas ao mesmo tempo, é ambientada numa sociedade em formação – a sociedade cacaueira da Ilhéus dos anos 20 -, portanto em busca de valores e opiniões que a integrem ao progresso tão fortemente almejado. O contraste entre a simplicidade e a conotação sexual com que Gabriela lida com as situações, e acirrada disputa política e moral que se estabelece no vilarejo, ajuda a ratificar o nível de desprendimento que a protagonista tem daquele cenário.

Tal contraste, portanto, é proposital. Amado constroi dois ambientes: um macrocosmo em que vemos uma sociedade contraditória, rural e ascendendo ao progresso, com a política influenciada pelo coronelismo, mas sendo cutucada com vara curta pelas novas ideias das cidades do Sul; e um microcosmo com as relações interpessoais, romances, traições, triangulos e até quadrados amorosos. E há Gabriela. Dentro desse microcosmo emocional, ela é quem clama pelo sexo. 

Gabriela é uma retirante que chega a Ilhéus acompanhada do amante, para trabalhar nas fazendas de cacau. Lá chegando, depara-se com o sírio Nacib, dono de um bar que precisa desesperadamente de uma cozinheira para aprontar um banquete sob encomenda. Nacib contrata Gabriela e ela dá conta do recado. Seu tempero torna-se marca registrada do estabelecimento de Nacib. Logo, sua beleza morena chama tanta atenção quanto o seu tempero. Atenção para o fato de que Amado transforma Gabriela numa espécie de deusa de todos os sentidos. Cheiro, sabor, aparencia, musicalidade…o tempero, a beleza e a voz de Gabriela determinando o sentido primitivo fundamental – o toque.

De fato, Nacib e Gabriela não demoram a se relacionar intimamente. A noite que passam juntos não é sobre amor, mas sobre desejo. Gabriela não se furta a nenhuma sensação. Sentir é seu estado natural, não é uma questão de certo ou errado. Ela quer, e é o que basta. Mas Nacib é um produto do meio social, civilizado e restrito. Um homem cuja intimidade precisa ser justificada perante a sociedade. Então com o passar do tempo, Nacib se convence de que ama Gabriela e a pede em casamento.

Como já dissemos, para Gabriela tudo é experiência. Muitas propostas já lhe haviam sido feitas, todos a queriam. Mas Nacib a queria num papel que nunca experimentara antes – o de esposa. Casar, se dar ao respeito, vestidos e sapatos. Seria uma boa senhora de família?

A resposta é obvia. Gabriela não se adapta à vida de casada. Não andar em panos leves, descalça e sem modos refinados a afastava demais de sua própria essência. O casamento, enquanto expressão da convenção social, arranjo primário de qualquer sociedade, não consegue prender o espírito livre de Gabriela. Em consequencia, o desgaste emocional é inevitável. A vida sexual de Nacib e Gabriela decai grandemente, já que o sexo marital “deve” se desprender completamente da luxúria. Para Nacib, nascido e crescido em sociedade, isto é o certo a fazer. Mas não para Gabriela. Nunca para Gabriela.

Gabriela, eternizada na imagem da atriz Sonia Braga


A morena cravo e canela, então, se liberta mais uma vez. Refuta totalmente um comportamento que não pedira, e com o qual não concorda. E como ela faz isso? Procurando em outro homem aquilo que Nacib se recusa a lhe dar. Gabriela quer sentir de novo. Não importa como. Não importa com quem. É um chamado do corpo, a única linguagem que ela conhece e domina.

Mas para a sociedade ao seu redor, esse chamado tem outro nome: adultério. E assim quando Nacib flagra Gabriela na cama com o conquistador Tonico Bastos (seu padrinho de casamento), a confusão se forma. Tonico é expulso da cidade; Nacib pede a anulação de seu casamento com Gabriela. Gabriela sai de casa. E o nó do casamento se desata. Mas Nacib e Gabriela não ficam separados por muito tempo.

Na parte final do romance, Nacib abre um restaurante na cidade em parceria com o político progressista Raimundo/Mundinho Falcão, vencedor da disputa política contra o coronelismo. Gabriela é contratada para ser a cozinheira do novo lugar. Completa-se então um ciclo, com o império dos sentidos atacando novamente. Mais cheiros e mais sabores, e a beleza cor de terra de Gabriela seduzindo novamente o já apaixonado Nacib. A morena e o sírio, então, retomam o tórrido caso amoroso do início da história.

Gabriela, senhora de si, poderosa em sua simplicidade, e com um poder muito simples nas mãos – o próprio sexo. Uma mulher que sem fazer nada mais do que sempre fez, fez tudo que uma mulher do seu tempo não teria coragem de fazer. Uma mulher forte a seu modo, determinada a seu modo – e que a seu modo, acabou vencendo.

(todas as imagens by Google)
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6 comentários:

Priscilla Marfori... disse...

Minha Flor, obrigada pela visita, estarei sempre vindo aqui também, até porque não dá pra ficar longe de suas lindas palavras!
B-Jos.

Cia. De Teatro Atemporal disse...

E nós, também estamos aqui para matar a saudade! E que saudade... quanto tempo... não é, Claudinha? (Risos)

O Blog está fantástico! E as postagens estão uma melhor do que as outras! PARABÉNS!

Saiba que você mora em nossos corações e não paga aluguel, conta de água, conta luz, IPTU...

Te amamos de coração, Claudinha!

Lhe desejamos um maravilhoso domingo e muitos e muitos BEIJOS!

Clemente.

Vanessa Souza disse...

Uma das minhas personagens favoritas.

meus instantes e momentos disse...

que bom ler esse teu post.
relembrar livros, personagens e situações.
Gosto de ti.
Maurizio

Neca disse...

E aquela que não tiver um pouco de Gabriela que atire a primeira pedra...

Bjin

Ps.: E sobre Travessuras da Menina Má... ela é prato cheíssimo para o teu blog!

Hannah disse...

E como não lembrar da cena televisionada de Gabriela Cravo e Canela no telhado retirando uma pipa?
A representação da mulher bonita e sensual através da ação natural de ser fêmea.
Parabéns mais uma vez, Claudia.

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