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PECADORES CONFESSOS...

sábado, 19 de junho de 2010

PENÉLOPE



QUANDO ela acordou, já estava tudo acabado. Ainda havia flores sobre a cama, no chão, no armário. Ainda tinha vinho sobre o criado-mudo. Tudo ainda estava tão completamente quieto. Um perfeito ocaso de uma noite de sexo. Perfeitamente insuportável.

Ele ainda estava perto demais. Precisava se controlar. Tinha certeza de que era um bom homem, talvez o melhor que ela pudesse encontrar, ou merecer. Mas o vazio era imenso. Era um enorme estomago, contorcido em úlceras e faminto. No meio de noites como essa, ele sangrava como nunca. E no início das manhãs, continuava sangrando, como sempre.

Era triste, mas tinha fome de tudo. Tinha esse jeito torto de gostar, e gostava muito, mas não sabia bem do que. Da vida, talvez. De beber demais, comer demais, de sair correndo para o meio da rua, e sentir a chuva e sol no rosto. Mas por mais que tentasse, não conseguia gostar dele.

Era a calmaria. A rotina. O embaraço. Era o passar de dias que se arrastavam, e a noite talvez uma surpresinha, uma tacinha, uma dancinha – depois a cama à luz de velas e uma manhã pacífica silenciosa. Como a morte.

E ela queria mais. Queria tudo, e mais forte, mais intenso. Queria as mãos pesadas do outro. O seu cheiro de briga. A sua coragem. Era sempre o fogo. O sol. Era um piscar de olhos marejados e boca seca, sedenta. E quando via...não via. Nem tinha tempo de se sentir culpada.

Manhãs como essa pareciam eternas. Ele não acordava. Não saía para trabalhar. Nunca. É desesperadamente frustrante esperar para ter sua vida de volta. Agora estava apenas num compasso interminável de espera.

Só podia imaginar o outro. Ah, é quase cruel pensar naquele corpo! Queria fugir para aquele corpo. Queria se prender naquele corpo. E os beijos...bem, era melhor não pensar nos beijos por enquanto.

Melhor esperar ele sair. Mas, que inferno!

“Mmmmm...que?”

Não se deu conta que tinha falado alto.

“Penélope?”

Parecia um sinal. A divina ou a diabólica providência se compadecendo dela.

“Nada. Não disse nada.”

“Que horas são?”

Um sorriso queimou nos seus lábios.

“É tarde. Vamos, querido, hora de levantar!”

E saiu, como um foguete, para fazer o café.


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2 comentários:

Ulisses Reis ® disse...

Confesso que fiquei maravilhado, confesso que te encontrar foi otimo, meus parabens, linda, tenha um sabado maravilhos, beijos !!!

Anônimo disse...

NOSSA CLAUDINHA! QUANTA INTENSIDADE NESSE CONTO...
UMA ESPÉCIE DE CARNALIDADE, DE SENSAÇÃO DE JÁ TER VIVIDO...
É ISSO QUE SENTI... MEU DEUS, COMO DISSE ALGUÉM, VIVER É MÁGICO!
CLAUDINHA, MAS QUERO COMPARTILHAR CONTIGO ESSE POEMA;

Dando vida

O poeta diz, escreve e fala
dando vida a tudo
dando vida a nada
feito uns gênios
místicos, iluminados.
Filósofos, obcecados
dão vida a tudo
dão vida às palavras.
Tornando real seu mundo
sentimentos perpetuados.
Dando vida a sonhos
dando vida a alguém
que hoje o tempo encerra
mas o tempo solene resgata...

BEIJOS EM TEU CORAÇÃO!

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