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PECADORES CONFESSOS...

domingo, 13 de junho de 2010

ROSA

Rosa era esperta. Gostava de andar de bicicleta, de pular corda. Gostava de clipes, apliques, repiques. Gostava de rir, de dançar, de balançar os cabelos e pintar os lábios de vermelho. E gostava muito, mas muito mesmo, de meninos.

As professoras diziam que ela tinha cabelo nas ventas – seja lá o que fosse isso. Mais uma dessas coisas que só pais, professores, e avós dizem. Não tinha muita paciencia com eles. Mas tinha mesmo muita energia. Que que tem isso? Porque tinha que se cercar de bonecos, chocolates e figurinhas, fazer furos no meio da laranja, testar as mãos nas amiguinhas, se podia simplesmente escolher um menino? Nunca entendeu o talento das pessoas de complicar tanto as coisas mais simples. E tinha uma raiva danada, muito grande mesmo, dessa historia de que tem hora certa pra tudo.

Achava isso uma enorme, grandississima palhaçada!

Afinal, ela já tinha catorze anos! Que diabo! Porque podia aprender a ler, varrer a casa, cozinhar, andar de salto, e não podia beijar, abraçar, tocar… qual era o problema afinal?

Aparentemente, ela era muito jovem pra isso. Essa era a resposta brilhante que se repetia na boca dos mais velhos. Mas que grande besteira!

Hoje Rosa ia provar que podia ser o que quisesse, quando quisesse.

Foi para escola equipada: salto, batom, acessorios. Quando passava nos corredores, todos os meninos torciam os pescoços, todas as meninas torciam o nariz. Sim, era isso que ela queria. “Falem bem, ou falem mal, mas falem de mim”.

Quando chegou na sala, o circo estava armado: olhos arregalados, gente falando alto, e o pobre do professor tentando desesperadamente acalmar a turma. Tadinho. Meio que bonito, mas enrolado que nem língua de bêbado. Nem se ouvia a voz dele. Também ele nem precisou falar por muito mais tempo.

Porque quando Rosa entrou, o pandemonio virou um velório. Silêncio total. A meninas não conseguiam acreditar na quantidade de maquiagem que ela tinha no rosto. Os meninos, no tamanho do busto, das pernas e do bumbum. Tinha conseguido o seu efeito. O efeito Rosa choque. Quem ia dizer que ela era uma criança agora?

Os quatro rapazes que a cercaram na saída do colégio não chamaram.

Tiraram todo o batom do seu rosto, levantaram seu vestido, e os acessórios foram pro espaço. Os gritos de Rosa eram agudos, como os de uma menina de doze anos. Ela tentou correr mas os saltos não deixaram. Ao sentir a mão de um dos rapazes no meio das sua coxas, pensou que talvez ela não soubesse mesmo o que fazer. Mas com o vestido levantado ate a cintura e um desconhecido abrindo suas pernas, essa descoberta não tinha mais tanta importancia.

E quando parecia mesmo que a sua vida de adulta ia começar bem cedo, o professor aloprado, que não conseguiu fazer a turma calar a boca, apareceu do nada e jogou cada um dos quatro meninos para um ponto cardeal diferente. E aí, bem…

Rosa se levantou do meio de algum lugar, conseguiu abaixar o vestido e dar um jeito no cabelo e caminhou devagar até o professor. Preocupado, ele quis saber se ela estava bem.

Rosa respirou fundo, lançou-lhe um olhar que era mais uma rajada de balas, e disse:

“Estava, seu idiota! Estava muito bem até voce chegar!”


(INSPIRADO EM "BONITINHA, MAS ORDINARIA", DE NELSON RODRIGUES)

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4 comentários:

Emilene Lopes disse...

Olá Claudinha!
Adorei conhecer sua Rosa, muito sapeca essa menina, rs
Vá até meu espaço e conheça Charlote, rs...mais quietinha;)
Bjs minha querida.
Mila Lopes

Ives disse...

Olá! é existem pessoas autenticas, artistas por natureza e que não se importam de fato com o publico! abraços

Helcio Maia disse...

Rosa dos ventos, dos sentimentos vãos, que vêm e vão.
Rosa de Luxemburgo, dos campos e dos burgos, cujas certezas perambulam pelos subúrbios de suas dúvidas.
Rosa de ninguém, dos jardins de inverno, rosa em prosa, rosa em verso,
rosa toda prosa, rasa e profunda, rosa pura e profana,
que precisa ser cultivada e encantada,
para mais rosa ser.

Anônimo disse...

As Vezes construímos sonhos em cima de grandes pessoas... O tempo passa... e descobrimos que grandes mesmo eram os sonhos e as pessoas pequenas demais para torná-los reais!

Bob Marley

Feliz Noite e beijos meus! M@ria

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