Lá estava ela no meio da multidão ondulante na estação de embarque de North Wall. Ele segurava-lhe a mão e ela sabia que estava se dirigindo a ela, repetindo alguma coisa a respeito das passagens. A estação estava repleta de soldados carregando malas marrons. Através dos largos portões do embarcadouro ela podia ver o vulto negro do navio, atracado ao longo do cais com as vigias iluminadas. Ela nada respondia. Sentia o rosto pálido e frio e, num labirinto de aflição, rezou pedindo a Deus que lhe guiasse, que lhe apontasse o caminho. O navio lançou dentro da névoa um silvo longo e triste. Se partisse, amanhã estaria no mar ao lado de Frank, navegando em direção a Buenos Aires. As passagens dos dois já estavam compradas. Seria possível voltar atrás depois de tudo o que ele fizera por ela? A aflição que sentia lhe provocava náuseas e ela continuava a mover os lábios rezando fervorosamente em silêncio.
Um sino repicou em seu coração. Deu-se conta de que ele lhe agarrara a mão:
— Vem!
Todos os mares do mundo agitavam-se dentro de seu coração. Ele a estava levando para esses mares: ele a afogaria. Agarrou-se com as duas mãos às grades de ferro.
— Vem!
Não! Não! Não! Era impossível. Suas mãos agarraram-se ao ferro em desespero. No meio dos mares ela deu um grito de angústia!
— Eveline! Evvy!
Ele correu para o outro Lado do cordão de isolamento e a chamou, para que o seguisse. Gritaram para que fosse em frente, mas ele continuava a chamá-la. Ela o encarava com o rosto pálido, passivo, como um animal indefeso. Seus olhos não demonstravam qualquer sinal de amor, saudade, ou gratidão.
E no próximo post, vamos discutir o pecado de Eveline... o que voce acha?
Fonte: JOYCE, James. Dublinenses. São Paulo: Siliciano, 1993. 2ª ed. Tradução de José Roberto O’Shea.
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