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PECADORES CONFESSOS...

domingo, 1 de agosto de 2010

MARIANA



Ela tinha aquela idade em que todos os dias são muito quentes e nenhuma hora passa de verdade. A pele sempre fresca, a boca úmida, sempre entreaberta; os olhos pretos cor de fumaça, com um apetite que não sarava nunca. Ainda usava saias curtas, que eram quase uma extensão das fraldas que eram só metáfora, mas ainda a perseguiam. A flor da idade. Nada nunca é simples.

Andava meio devagar, como que um segundo atrás do mundo. Prestava atenção em tudo. Tinha miçangas verdes nos cabelos e as tranças por vezes a incomodavam; mexia nervosamente as mãos, na cara, no nariz, abaixava a saia, para logo depois a levantar, até quase no meio das pernas.

Era assim, ansiosa e distraída. E atenta, mas só nas pequenas coisas. Aquelas coisas que as meninas de treze anos acham importante: porque os pelos, os seios, a blusa molhada de suor insistente, e esse calor que vinha de dentro? E porque fulaninha beija de boca aberta? E a cicraninha usa sutiã tamanho M!? E porque os verbos são tantos, e há tanto o que falar nas festas, nos ensaios, nas praças de alimentação...

Aos treze tudo é questão e exclamação. Tudo é sensação. Mariana sabia bem disso; quando andava sozinha assim, a sua cabeça era um enorme ponto de interrogação. E as pessoas...as pessoas bem, se não tinham a sua idade talvez nem importassem muito. Se tivesse a idade de seus pais, não importariam mesmo. Pais não entendem. Pularam dos 10 para os 20 sem escala, Mariana pensa. Desde quando se lembra, sua mãe tem 32, e seu pai tem 35. Pais e mães nunca têm 13 anos junto com a gente, isso é mal.

Assim vai Mariana, pensando na vida com seu andar triste, a saia rente aos quadris, os dentes cravados nos lábios como se comesse chocolate. Saiu de casa depois do almoço, fez um bocado de fofoca com as amigas, e estava voltando pra casa muito mais tarde do que a mãe podia aceitar. O celular tocou umas cinco vezes. Volta pra casa menina! Sempre o mesmo grito. Já vou, mãe, sempre o mesmo desdém. E porque a mãe falava sempre do mesmo jeito de... mãe? Demorou mais, só pra ela aprender.

Gozada essa palavra, aprender. Mariana pensa, minha mãe tem que aprender. Mas ela também precisa aprender. Precisa de experiência. Aos treze, a gente só pensa que tem razão; A gente pensa, e dá um monte de voltas. Parece que tudo gira em volta da gente, mas não é assim. Não é simples assim.

Mas Mariana não sabe disso. E por isso ela anda devagar, um segundo atrás de tudo, deixando tudo pra trás. Andava como se o tempo fosse um pé depois do outro. E enquanto isso a noite caía, a rosa do céu era rubra, depois azul, e o vento era mais gelado e a lua parecia maior...

Então um barulho. Alguma coisa que não tinha nada a ver, que não devia estar ali. Alguma coisa forte, uma batida no chão, um ritmo. Parecia distante, ou eram só seus pensamentos? Não, a lua estava distante, o dia também. Seus sentimentos, suas perguntas, agora não valiam, estavam num lugar muito longe dentro dela, e ela também ainda estava longe, muito longe de casa...

Olhou em volta, mas que rua era aquela mesmo? Ela sabia, talvez. Olhou ainda mais. Não era nada, pensou. O lugar estava meio escuro, meio deserto, mas já estava mais que de noite e, bem, por que algo tinha que acontecer?

Então outra vez. Mesmo barulho, um som ecoando, mais forte que antes. Mais forte, mais vezes, mais perto. Sim, muito mais perto. Apertou o passo. Já não gostava tanto de andar devagar, já não queria ensinar mais nada à mãe. Não queria mais demorar.

Quanto mais rápido ela andava, mais perto ela sentia. Insistente, firme, mais perto e mais e mais...

Já não olhava pra trás. Não precisava. O ar quente parecia rondar seu rosto, seu pescoço, e o ar frio rodeava suas pernas, e seus braços arrepiavam como se morresse de frio, e seu corpo tremia; já nem pensava mais. Aos treze tudo era sensação. Sensação, sentimento, e às vezes também medo. Mariana tinha treze. Apenas treze, mas será que já era hora?

Precisava de experiência. Minha mãe sabe, pensou. Eu só faço perguntas. As meninas falam. Mas e aquele barulho? E a tremedeira, e a imaginação, e o medo? Então era assim? Alguma coisa que vem do nada?

Não, as meninas falam que não. Falam do beijo, o beijo é bom. Tem o calor e o frio, mas e aquele barulho? As meninas não falavam do barulho. Não, não devia haver barulho, nem coisas estranhas na rua de noite. Mas então, que diabos era aquilo?

Resolveu parar. O barulho continuou um pouco mais; e depois, parou, de súbito. E o ar quente circulava por seus ouvidos, e o ar frio lhe cobria as mãos e os pés, e ela tentava pensar, e de repente foi estúpido parar, e ela tenta andar de novo, mas uma mão forte a segura pelos ombros e...

“Mariana?”

Era o seu nome. Uma voz muito familiar.

“Mariana, sua mãe está louca atrás de você! Já ligou pra todas as suas amigas. Porque você não atende o celular? Andando sozinha de noite a essa hora, parece maluca...”

“Pai?”

Eram passos. Isso ela já sabia, bem no fundo da sua cabeça de flor. Mas então, o resto...que alívio! Mas, que droga!

Foi embora pra casa. Seu pai ainda falou por todo o caminho sobre o perigo da rua, sobre ela ter treze e não saber coisa nenhuma da vida, e que ele a tinha achado, mas e se não tivesse?

Mariana afastou mais uma vez suas miçangas verdes da cara. Não agüentava mais aquela cor. Mas não sabia pra que cor trocar. Quem sabe amanhã, ou depois. Nunca se sabe. 

E a noite escura ficou pra trás. Afinal, ela tinha apenas treze. Aos treze tudo se esquece. Não era simples de entender, nunca é. Mas também não era hora de pensar. Não era hora de aprender, Mariana pensa. Não era hora. Tudo a seu tempo.

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7 comentários:

Jô Rodrigues disse...

Ameeeeei teu blog!!! Muito interessante!

Bjos.

Unknown disse...

Oi Claudinha!

Só hoje consegui passar por aqui para agradecer sua visita!

Adorei seu post!!

Parabéns pela criatividade!

Beijos
Lia

Blog Reticências...

Anônimo disse...

Claudinha, parabéns viu?
Adorei!
Como é bom ler, como é bom conhecer, como é bom ter as mesmas sensações... Estranho?
Não... Somos da mesma matéria, viemos das estrelas, para lá voltaremos?
Eis que num dado momento, tive as mesmas sensações da Mariana...
Voltei em mim, de onde estava!
Ahh, quem me dera desvendar os segredos do universo...
Um beijo Claudinha, um abraço afetuoso.

Flávia Shiroma disse...

Oi Claudinha, vim agradecer o seu carinho no meu blog. Um beijo grande!

VASCODAGAMA disse...

AMEI
OBRIGADA PLO S/COMENTARIO

VOU VOLTAR

El Brujo - Rock disse...

Pecar aqui com vc é um delicioso prazer. Sou fã!

El Brujo - Rock disse...

Pecar aqui com vc é um delicioso prazer. Sou fã!

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