Uma boa forma de começar a entender Catherine Earnshaw, ou Catherine Heathcliff, ou Catherine Linton – como ela costumava alternar em seu diário em O Morro dos Ventos Uivantes – é considerar as afirmações de Charlotte Bronte acerca do livro e, principalmente, acerca da autoria do livro, Emily Bronte. De acordo com Charlotte, Emily tinha uma visão distanciada, porém profunda e muito particular, do mundo exterior. As lacunas provenientes deste afastamento foram invariavelmente preenchidas com uma imaginação poderosa, catártica, com um forte veio trágico. Emily, conforme nos apresenta Charlotte, é um “espírito livre”, uma criatura dos charcos, envolta em escuridão e beleza. Esta descrição parece caber quase que completamente na personalidade de sua Catherine, heroína trágica do romance de Emily Bronte.
Gilbert & Gubar (2000) – minha bibliografia essencial para a dissecação da escrita feminina – compara o aspecto metafísico de O Morro dos Ventos Uivantes e o terror científico do Frankesntein de Mary Shelley, atestando que enquanto o primeiro é “um romance enigmático de paixão metafísica”, o segundo seria “uma enigmática fantasia de horror metafísico” (249). Seguindo a idéia de abordar a ótica dos personagens femininos no seu relacionamento com os seus parceiros, proponho que se faça um paralelo entre a Catherine de Emily Brontë e a Jane Eyre de sua irmã Charlotte, de cuja história falamos anteriormente.
É inegável a inserção do elemento metafísico na construção do romance entre Catherine e Heathcliff, elemento ausente em Jane Eyre. Os fantasmas de Jane Eyre são outros: são de caráter psicossocial, psicológico, emocional. Na história de Charlotte Brontë fica claro a influência de visões pré-concebidas do mundo, da sociedade e principalmente, do papel da mulher. Grande parte da tensão sexual entre Jane e Rochester vem de uma guerra velada de poderes, uma mulher em busca de auto-afirmação, respeito, e um homem tão apaixonado quanto obcecado por controlá-la através dessa paixão. A abordagem de Charlotte é secular, absolutamente fincada nas realidades feminina e masculina dentro do ambiente social retratado no romance. Já em O Morro dos Ventos Uivantes, a relação entre Catherine e Heathcliff é irracional, inconstante, baseada numa visão particular que ambos tem um do outro, e restrito ao ambiente dos charcos, da natureza selvagem. A paixão entre o casal floresce sempre no meio do nada, numa espécie de limbo onde os espíritos de Catherine e Heathcliff permanecem intocados pela mão pesada da realidade que os cerca. As assinaturas de Catherine em seu diário, utilizando diferentes sobrenomes numa determinada ordem, sugerem um crescendo na personalidade da protagonista, que se enxerga em diferentes identidades. Charlotte Brontë usa o mesmo recurso com Jane, que na véspera do seu frustrado casamento com Edward, estranha o sobrenome do amado junto ao seu nome. Como Jane Eyre, Catherine está em busca do seu lugar, de um eu que a satisfaça, mas esbarra nas paixões, nas incompreensões, e no sofrimento.
O aspecto social da historia de Emily Brontë vem representado na família Linton, da qual Catherine passa a fazer parte após o afastamento de Heathcliff. A identidade civilizada de Catherine não é propriamente uma escolha, mas um modo de controlar um espírito desconcertado pelo desaparecimento repentino do amado. Cathy Linton tem uma filha, que mais tarde será o instrumento da vingança de Heathcliff. A placidez da vida de Catherine Linton será definitivamente abalada com a volta de sua grande paixão; mas, Catherine Heathcliff não tem mais espaço na vida que Catherine Earnshaw escolheu ao se casar. Da mesma forma, Jane Eyre precisou escolher entre o matrimonio convencional – como o defendido pela Igreja – e o matrimonio com Rochester, que nunca poderia se oficializar porque Edward já tinha uma esposa. A união com Rochester seria passional, enquanto o casamento proposto a ela por St. John seria uma união espiritual. Mas Jane, já independente e dona de sua própria personalidade, abandona o convencionalismo ao decidir voltar para um Edward que, até onde sabia, ainda era casado. Já Catherine se esforça além das próprias forças para ser apenas Catherine Linton, sem sucesso, de forma que só a morte pode redimir suas outras identidades primitivas, conectadas diretamente aos charcos, e a Heathcliff. (continua..)
Gilbert & Gubar (2000) – minha bibliografia essencial para a dissecação da escrita feminina – compara o aspecto metafísico de O Morro dos Ventos Uivantes e o terror científico do Frankesntein de Mary Shelley, atestando que enquanto o primeiro é “um romance enigmático de paixão metafísica”, o segundo seria “uma enigmática fantasia de horror metafísico” (249). Seguindo a idéia de abordar a ótica dos personagens femininos no seu relacionamento com os seus parceiros, proponho que se faça um paralelo entre a Catherine de Emily Brontë e a Jane Eyre de sua irmã Charlotte, de cuja história falamos anteriormente.
É inegável a inserção do elemento metafísico na construção do romance entre Catherine e Heathcliff, elemento ausente em Jane Eyre. Os fantasmas de Jane Eyre são outros: são de caráter psicossocial, psicológico, emocional. Na história de Charlotte Brontë fica claro a influência de visões pré-concebidas do mundo, da sociedade e principalmente, do papel da mulher. Grande parte da tensão sexual entre Jane e Rochester vem de uma guerra velada de poderes, uma mulher em busca de auto-afirmação, respeito, e um homem tão apaixonado quanto obcecado por controlá-la através dessa paixão. A abordagem de Charlotte é secular, absolutamente fincada nas realidades feminina e masculina dentro do ambiente social retratado no romance. Já em O Morro dos Ventos Uivantes, a relação entre Catherine e Heathcliff é irracional, inconstante, baseada numa visão particular que ambos tem um do outro, e restrito ao ambiente dos charcos, da natureza selvagem. A paixão entre o casal floresce sempre no meio do nada, numa espécie de limbo onde os espíritos de Catherine e Heathcliff permanecem intocados pela mão pesada da realidade que os cerca. As assinaturas de Catherine em seu diário, utilizando diferentes sobrenomes numa determinada ordem, sugerem um crescendo na personalidade da protagonista, que se enxerga em diferentes identidades. Charlotte Brontë usa o mesmo recurso com Jane, que na véspera do seu frustrado casamento com Edward, estranha o sobrenome do amado junto ao seu nome. Como Jane Eyre, Catherine está em busca do seu lugar, de um eu que a satisfaça, mas esbarra nas paixões, nas incompreensões, e no sofrimento.
O aspecto social da historia de Emily Brontë vem representado na família Linton, da qual Catherine passa a fazer parte após o afastamento de Heathcliff. A identidade civilizada de Catherine não é propriamente uma escolha, mas um modo de controlar um espírito desconcertado pelo desaparecimento repentino do amado. Cathy Linton tem uma filha, que mais tarde será o instrumento da vingança de Heathcliff. A placidez da vida de Catherine Linton será definitivamente abalada com a volta de sua grande paixão; mas, Catherine Heathcliff não tem mais espaço na vida que Catherine Earnshaw escolheu ao se casar. Da mesma forma, Jane Eyre precisou escolher entre o matrimonio convencional – como o defendido pela Igreja – e o matrimonio com Rochester, que nunca poderia se oficializar porque Edward já tinha uma esposa. A união com Rochester seria passional, enquanto o casamento proposto a ela por St. John seria uma união espiritual. Mas Jane, já independente e dona de sua própria personalidade, abandona o convencionalismo ao decidir voltar para um Edward que, até onde sabia, ainda era casado. Já Catherine se esforça além das próprias forças para ser apenas Catherine Linton, sem sucesso, de forma que só a morte pode redimir suas outras identidades primitivas, conectadas diretamente aos charcos, e a Heathcliff. (continua..)
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